O POETA DO BAIRRO 7

Glorisvaldo era um sujeito esquisito. Ele era tratado pelos vizinhos como o poeta do bairro 7 por causa da enorme biblioteca que existia em sua casa. O acervo tinha cerca de 1000 livros. Ali tinham gêneros variados cono romances policiais, aventura, ficção científica e até biografias de celebridades. A maioria destes livros foi doada por alguns populares. Essa maioria considerava o Glorisvaldo como importante figura por causa de sua incomparável oratória. Ele costumava discursar em qualquer lugar. Outro dia o "poeta" viu uma criança jogar um papel de bala no chão e entoou um improviso. Glorisvaldo improvisou um discurso: - Criança maravilhosa, venho aqui para solicitar a sua caríssima atenção nesta manhã de sábado. Peço-lhe que não abandone esta finíssima lâmina de plástico na margem desta avenida... O "poeta" foi interrompido pelos gritos da mãe do garoto com um sonoro palavrão. Glorisvaldo, claro, ficou ruborizado e seguiu o seu caminho. Os vizinhos não sabiam de muita coisa sobre a vida dele. Mas diziam que ele viera da cidade de Salto, que era o berço dos intelectuais. Quando o "poeta" chegou à Villa, muita gente estranhou o enorme baú que vinha junto com a sua bagagem. Porém as pessoas compreenderam mais tarde qual era o conteúdo: livros. O "poeta" morava sozinho e tinha um enorme ciúme de seus livros. Até a diarista que prestava serviços em sua casa, não tinha acesso a biblioteca. Ali era um lugar "sagrado" para Glorisvaldo. Mas certa vez o filho da vizinha da direita, o Joazinho, entrou de soslaio pela janela da biblioteca e flagrou o "poeta" lendo um livro. Porém o que chamou a sua atenção foi a maneira que Glorisvaldo decifrava as palavras. Na verdade quem lia aquele livro não foi o "poeta",mas uma professora de alfaberização. Ela ensinava as primeiras letras para Glorisvaldo. Por isto que muita gente desconfiava das recentes visitas de uma mulher de meia idade à casa do "poeta". Na verdade ele era analfabeto, mas um sábio com as palavras.