Simplesmente Gisele
Gisele, 15 aninhos, bela menina-moça, porte alto, cabelos longos e loiros, olhos azuis, pernas bem torneadas, morava na última casa, a de número 120, lado esquerdo, de uma vila de casas, todas do mesmo padrão, onde moravam casais de idosos e de classe média alta, a maioria aposentado. Alguns viúvos e duas viúvas, que coabitavam suas casas com cuidadoras. Os viúvos, três no total, ainda bastante lúcidos, moravam sozinhos, cada um em sua casa.
Poucos eram os adolescentes, quatro do sexo masculino, assim, Gisele reinava triunfante nesse pequeno reduto de belas casas de dois pavimentos. O quarto da menina-moça, no andar superior, dava para a alameda e em frende moravam dois dos três viúvos, o senhor Arlindo e o senhor Alberto. Eles não se falavam, por causa da Gisele, ciúmes besta, como dizia a menina.
Gisele morava com seus avós, pois perdera mãe e pai em um desastre de carro, quando tinha dez anos. Como os avós já eram velhos, eles não subiam ao quarto da garota. Ela também não permitia a entrada de ninguém, nem mesmo da empregada que cuidava da casa, por isso mantinha sempre a porta trancada à chave, carregando-a consigo quando deixava seu quarto. Suas roupas, toalhas, lençóis e colcha de cama ela mesma fazia questão de deixar no local apropriado, para serem posteriormente lavadas. Quando passadas, ela mesma as levava para o andar de cima e as guardava nos locais devidos.
A menina era muito sapeca, perambulava pela alameda todas as manhãs, entre oito e nove horas, subia e descia duas ou três vezes, dependendo do ritmo da canção que cantarolava. Aos primeiros acordes da garota, os respeitáveis senhores saíam de suas casas e esperavam, sentados em suas confortáveis cadeiras de balanço, pela passagem daquela que era a alegria e o frescor daquele ambiente. Vestida quase sempre de short bem curto, com parte dos glúteos à amostra, blusa de malha fina, desenhando os seus seios não fartos, mas belos, ela se mostrava sensual para a sua plateia de velhinhos. Eles iam ao delírio silencioso, nenhum se mostravam ousados, permaneciam quase às escondidas, para não se denunciarem uns aos outros. O assunto Gisele não era tratado nas rodas de conversa do grupo de moradores, pelo menos sobre as costumeiras idas e vindas do anjo matinal.
O evento mais implicante e embaraçoso envolvia os senhores Arlindo e Alberto. Eles também tinham seus quartos para a alameda e de suas janelas podiam ver todo o movimento de Gisele em seu quarto. Ela sabia que estava sendo sempre observada, mas não se importava. Ao contrário, provocava a ambos em demasia. Quando chegava da escola trocava de roupa sem fechar as janelas. Também não se mostrava toda, passeava pelo quarto só de calcinha e sutiã, ao se preparar para o banho, se enrolava em uma toalha e ia retirando a roupa bem devagar e sob a toalha. Ao término do banho, o ritual era o mesmo ao se vestir. Ela se deliciava com os movimentos dos dois senhores, à procura dos melhores ângulos para vê-la. Eles não a deixam sossegada nem na hora do almoço, pois, ao voltar do andar de baixo, os velhinhos estavam lá para espiá-la.
A preparação para dormir também era um ritual. Ela gostava de ler ou estudar até o final da noite. Quando não fazia isso, usava o computador, para consultar e enviar e-mails. Ela percebia que os velhinhos estavam lá, na torcida para que acendesse a luz do abajur e apagasse a luz central, localizada no teto do quarto. Era o momento que Gisele se despia e vestia o pijama. Esse ato era encenado próximo à janela e na frente do abajur, assim eles só poderiam vê-la da cintura para cima, só os seios à mostra, mesmo assim, em luz difusa. Ela não tinha pressa para vestir-se completamente, até se deslocava para outra parte de seu aposento, retirando-se do alcance de seus espiões. Fazia isso como castigo por não a deixarem em paz, embora sentisse prazer com aquele joguinho.
Algumas vezes se irritava e batia a janela. Sabia que eles ficariam ali do outro lado até a escuridão total de seu quarto. Outras vezes se arrependia do ato e voltava a escancarar a janela, deixando a pesada cortina meio fechada. No outro dia agia como se nada tivesse acontecido, descia e dava bom dia, com um sorriso largo, aos dois velhinhos que já se encontrava devidamente sentados em suas cadeiras, à espera do passeio matinal da menina sapeca.
Isso durou até Gisele ser descoberta e contratada por uma agência de modelos, para trabalhar no Japão. E os velhinhos, coitados, ficaram a ver navios!
Gilberto Carvalho Pereira, Carcavelos, PT, 26 de outubro de 2016