Menino Lobo

Desde nascido tentou ser gente, imitar as outras crianças, tentar entende-las. Quando pequeno passou a acreditar que era um cão, depois que viu Mógli pela primeira vez na televisão. A ideia de poder ter uma outra natureza, uma mais simples, uma mais sincera, parecia algo fantástico para aquela jovem mente, como se em sua vida toda, fosse um cão selvagem no corpo de um menino, quem poderia lhe dizer que não o era? O tempo foi passando e o menino-lobo foi lançado no mundo dos adultos, um mundo grande demais para ele entender de uma só vez, todas aquelas regras, todos os jogos de poder e toda falsidade. Aos pouco ele foi sendo adestrado, introduzido nas estranhas normas sociais. Foi forçado a aceitar as leis dos homens, a aprender a dizer sim quando queria dizer não, aprendeu a mentir, a manipular e adquiriu alguns vícios socialmente aceitáveis. Passou a ser visto como um igual pelos demais homens que esqueceram do tempo em que caminhavam sobre quatro patas. Mas hoje em dia, mesmo debaixo daquela roupa, debaixo daqueles valores que aprendeu a defender, ainda existe aquele menino-lobo saltando de alegria, querendo brincar , toda vez que vê a grama molhada depois da uma rápida chuva de verão.