A calcinha da discórdia

Maria de Fátima era apaixonada por Evilásio. Muito romântica queria se casar. Ele insistia que primeiro morassem juntos e depois, o casamento. Ela pensou muito antes de se decidir. O namoro já durava mais de cinco anos e isso pesou na sua decisão. Alugaram uma casa e mudaram-se. Entre-tanto, Maria de Fátima vivia repetindo que foi morar com ele, com a condi-ção de se casarem.

Evilásio trabalhava num posto de gasolina, e ela, num supermercado. Nas horas vagas ela cuidava da casa, quando deixava tudo limpinho e orga-nizado, para aos poucos, ele ir sujando e desorganizando. Tirando o ciúme dele, eles viviam bem.

Um dia, ela estava de folga e resolveu fazer uma arrumação bem feita na casa. Faria uma faxina geral, que embora não fosse fácil, tinha que ser feita por ela, e mais ninguém. Na hora de tirar a sujeira do chão precisou usar o aspirador de pó. Ligou o aparelho, que funcionou por alguns segun-dos e parou. Tentou fazê-lo funcionar novamente, e nada, ele não a obedecia. Deu-lhe algumas pancadas, porém, não teve sucesso. Concluiu que o aspira-dor necessitava de conserto.

Para não atrasar o que estava fazendo, teria que resolver o problema, sozinha. Não queria atrasar o que estava fazendo. Por isso, não podia espe-rar a chegada de Evilásio para leva-lo a oficina. E para ganhar tempo levou o aspirador de pó para a inspeção de um técnico que ficava perto de casa. Era uma lojinha de consertos de eletrodomésticos. Chegou, conversou com o técnico, contou a ele o que aconteceu. O técnico disse que precisava desmon-tá-lo para descobrir o defeito. Estava apressada, mas, para terminar o servi-ço que começara em casa, teria que esperar.

Ao desmontar o aparelho, ele retirou de dentro dele uma calcinha que bloqueava o cano sugador. O homem levantou o braço com o diabo da cal-cinha vermelha na mão e perguntou:

- De quem é isto aqui?

Aquela calcinha não pertencia a ela. De repente, era como se algo se rompesse dento dela. O estrangulamento que sentiu na boca do estômago, a visão daquela peça de roupa na mão do técnico, fez seu coração subir pela garganta. Uma onda de desgosto e raiva inundou seus pensamentos e teve vontade de matar o Evilásio. Não queria acreditar que ele a traísse na sua própria casa. Entretanto, a calcinha vermelha que o técnico retirou do aspi-rador de pó era a prova de que ele a estava passando para trás com outra. Ficou com o coração partido. Voltou para casa sentindo-se humilhada.

Evilásio chegou do trabalho, calmo e tranquilo, a cumprimentou, ten-tou beijá-la mas ela recusou. Estacou diante dele e furiosa confrontou-o, mostrando a calcinha.

- O que significa isso? - Onde já se viu Evilásio! - Que pouca vergo-nha!

Evilásio disse que aquilo não tinha nada a ver com ele, não usava cal-cinhas. E descaradamente negou tudo, achando que sua atitude mostrava que quem mandava na casa era ele. Em seguida, abriu uma garrafa de cerve-ja e jantou. Depois, foi ver televisão. Em poucos minutos, sob o feito da cerveja, adormeceu no sofá.

Maria de Fátima não pensou duas vezes, foi para o quarto, arrumou a mala e, sem se despedir, desapareceu da vida de Evilásio para sempre.