Espera
Cinco pessoas estão dentro da sala. Conheço a que está sentada no colchão. Daiane, se bem me lembro, Sara nos apresentou na terça-feira. Sento-me perto dela; ela sorri e pergunta se está tudo bem. Dou uma resposta indiferente. Observo seu rosto; sério, calmo, focado. Na última vez ela estava alegre, incontrolável. Ausência de maconha talvez. Ela me deixa de lado alguns segundos depois. Sinto falta de sua atenção, mas me recupero em seguida.
Aconchego-me no colchão. Olho no celular. Posso espera-la por mais meia hora, aproximadamente. O ambiente está morto; se ela estivesse aqui irradiaria energia. Ela me chama de “amor”, me abraça e me beija com vigor. Me faz sentir bem. Gosto dela, mas do que devia talvez. Queria que estivesse aqui. Seria uma boa motivação para esquecer e fingir um sorriso.
O tempo segue arrastado. Atento-me para os outros. A minha esquerda uma garota muito parecida com Daiane está ao celular. A minha direita um rapaz alto e barbudo está deitado com headphones. Não faço ideia do que ele pode estar ouvindo. A minha frente um homem e uma mulher. Ela é loira e corpulenta. Os seios transbordam; o mamilo esquerdo está quase fora da blusa. Ele parece um ator canastrão; barba, bigode, cabelo encaracolado, terno roxo, calça cáqui e sapatênis. Depois de alguns segundos viajando pelos seios dela me enjoo.
As paredes eram brancas; estão, agora, gretadas. Deixo-me levar pelos escritos. Há vários poemas, vários desenhos, vários desabafos, vários recadinhos. Alguns deles muito interessantes. Alguns me dão vontade de me expressar também; colocar pra fora. Desejo por algo assim no meu curso; onde eu pudesse colocar pra fora e ser lido. Meus olhos voltam para os seios. Não são mais interessantes, mas isso não importa.
A meia hora, e mais alguns minutos, passa. Nem sinal dela. É triste. Sinto-me triste. Sinto saudade. Dela. Do que ela me proporciona. De como me sinto depois de vê-la. Não sei do que mais. Suspiro. Sara não veio. Uma das ausências de hoje.