UM HERÓI DE PAPEL
Seu Silva chegou em casa feliz. Tinha sido o seu dia de sorte. Deu um beijo na esposa e a presenteou com um vestido novo. Para o seu filho, deu algumas revistas em quadrinhos. O garoto colecionava gibis de super-heróis. Sua esposa indagou o motivo dos presentes. Nada especial, apenas queria demonstrar que gostava deles. Ele resolveu manter em segredo que havia encontrado uma carteira na rua, recheada de dinheiro. "Achado não é roubado, quem perdeu é o relaxado", seu Silva pensou. Mas sabia que sua esposa não pensaria da mesma maneira. Se ele contasse, certamente ela iria lhe reprender. Mas, ora vejam, seus olhos brilhavam enquanto experimentava o vestido novo. Para quê estragar o momento? Seu Silva estava feliz. Pagou as contas, fez compras e ainda levou a esposa para jantar fora. Deus tinha lhe dado uma grana extra naquele mês.
"Perdi a carteira, mulher". Foi assim, de forma direta, que aquele senhor de idade deu a notícia para a companheira. E ele contou que havia sacado o dinheiro da aposentadoria de ambos no caixa eletrônico. Pôs o dinheiro na carteira e se foi fazer o rancho. "Me deu uma frouxura nas pernas quando vi que tinha perdido", ele disse. Sua esposa o consolou. Podia ser que alguém devolvesse. O velho quase riu da sua ingenuidade, mas se conteve. Seria como rir de sua própria desgraça. "Pelo menos, espero que quem tenha achado esteja precisando". O velho suspirou, ao pensar na peregrinação para refazer documentos, retirar novos cartões eletrônicos etc. "Vai ser um mês apertado". Nisso, uma batida na porta. Era um garoto, catador de papéis. Tinha achado no lixo a carteira daquele senhor. O velho, agradecido, abriu a carteira: nenhum centavo. Mas ofereceu como recompensa ao garoto uma caixa de gibis, que seu filho colecionou durante anos. O garoto agradeceu e foi embora. Feliz com os seus gibis de super-heróis. Sem saber que, naquele dia, ele tinha sido um.