O Primeiro dia na Escola

Segunda-feira seria um dia comum em Macapá, se não fosse o primeiro dia letivo nos colégios da rede Estadual, inclusive para muitos trabalhadores, um dia que não se deve marcar reuniões, um dia em que o IBAMA tem mais trabalho, pois muita gente sai de casa com a preguiça presa ao pescoço.Entretanto, pode ser uns dias inesquecíveis, eufóricos, de muita ânsia e porque não dizer o mais importante da vida de uma criança, quando se trata do seu primeiro dia na escola.

Assim numa manhã, onde as nuvens não eram de algodão e o sol manhoso se esquivava do dia, a menininha Eliane, diferentemente de muitas crianças, que no seu primeiro dia de escola choram, esperneiam e gritam para não ir, acordará sob a ânsia de vestir um uniforme e ir pela primeira vez à escola José de Anchieta.

Como todos os dias o café já estava à mesa, o pai assentado na cabeceira apressando por causa do horário e a mãe arrumando a irmã mais velha, que ao contrario de Eliane estava querendo ficar assistindo televisão.

Em ritmo de vontade, a menina, de apenas cinco aninhos, sozinha já tinha vestido o seu uniforme, calçado a meia com o seu sapatinho, deixando para mãe o fardo de amarar e de penteá-la de acordo com os padrões da época.

Isso era mesmo uma odisséia, pois dona Isaura carinhosamente fazia com gosto, parecia tecer os cabelos aloirados e encaracolados das filhas em fitas vermelhas ou amarelas, que mais pareciam borboletas descansando no capinzal.

No arfa de sua euforia Eliane ficou em pé sobre a cadeira para beber o seu café e como toda a criança, em uma obra de descuido, sem querer entornou sobre a mesa, numa festa caricatural.Por sorte, não sujou o seu uniforme.

Contudo em sua perspicácia infantil, antes da reclamação do pai ou da mãe ela pegou o pano e para se adiantar foi logo limpando. Em seguida, já pronta, andava de um lado para o outro impaciente esperando pela irmã que enrolava para tomar o café.

Como não tinha o que entreter, ela resolveu ir de novo revirar os seus pertences na mochila... O classificador, o lápis de cor,o livro “Lúcia já vou indo” , a toalhinha e a inseparável bonequinha Maria, quando inesperadamente começou a chover. Uma chuva tão forte, que os jambeiros se empurravam nos fios elétricos, as mangueiras da cidade deixavam cair suas mangas sobre o asfalto e na janela envidraçada dos carros estacionados batiam a se debruçarem escorregando lentamente sem parar, como poesia de um inverno, que não iria passar.Essa precipitação violenta durou não mais que dez minutos, mas se estabilizou em pingos freqüentes fazendo senhor Ademir revogar a ida das filhas à escola.Decisão contestada imediatamente com lágrimas e batidas de pés enfezadas pela pequena Eliane, que quase lhe renderam umas boas palmadas do pai, não fora a interceptação caridosa da mãe.

Dona Isaura, sempre compreensiva conseguiu junto ao seu Ademir, que eles fizesse a vontade da pequena Eliane, que já estava em prantos sobre a cama.

Sensibilizado o pai, chamou um táxi para levar as pequenas, que ficaram atabalhoadas, com capas, sombrinhas e a alegria de voltar a escola bacana.

Ao chegarem no colégio, a campa já estava batendo para entrada e Eliane, a primeira a descer, desceu tão feliz, que foi logo beijando a inspetora, que apressava os alunos atrasados, pois os portões estavam fechando.

Numa alegria só ela foi apresentada a sua sala de aula, todos os garotinhos e garotinhas devidamente assentados em seus lugares foram convidados pela tia a colocarem sobre a mesa os seus materiais escolares, que estava contido na lista exigido pela escola, para começarem os seus trabalhos.

Enquanto os coleguinhas colocavam sobre a mesa os seus pertences e falavam mais que araras na mata, Eliane, sem mais nem menos, começava a chorar incontrolavelmente, a ponto de chamar atenção de todos e da professora, que comedida foi ao socorro da aluna nova.Chegando na carteira daquela aluna gordinha, loirinha, a menor da turma, que não parava de chorar e repetir o nome de sua irmã, a professora ficou preocupada, mas tentava entender, que como era o primeiro dia, era normal aquela atitude.Até que sem mais saber o que fazer, diante do insistente pranto. Decidiu enfim ir a procura da irmã mais velha daquela aluna.E quando encontrou, depois de andar várias salas, Eliane confessou só a sua irmã, que o seu choro, era porque tinha esquecido no táxi a sua mochila, com todo o seu material.Comovida e penalizada a professora, já na secretária da escola teve que mandar Eliane com sua irmã para casa.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 25/07/2007
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