Uma chuva danada. Uma noite fria. Dessas que te empurram pra dentro de casa, buscando algo para fazer. De repente, a visão do computador — quieto, desligado — é um convite. Por que não?
Foi assim que Suzana resolveu se distrair, entrando numa daquelas salas de bate-papo. Travessa, resolveu usar um nick convidativo, desses que atraem a atenção dos homens — “VestidaParaMatar”.
 
Em segundos começaram a pipocar os convites. Resolveu-se por alguém que se intitulava “Gato de Olhos Verdes/ 42”, pensando em como seria a pessoa por trás da propaganda. Não se surpreendeu quando o “felino” perguntou-lhe como estava vestida, mas achou graça quando ele disse que estava nu. “Vou dar a volta nesse babaca”, arquitetou.
 
— Nu mesmo? Mas com um frio desses? — provocou.
— É, sem nada, quer ver? Ligue a web-cam que eu ligo a minha — respondeu o desavisado.
— Não posso, ela está com defeito — mentiu — Mas, me diga, o que faz da vida?
— Trabalho com informática.
— Ah! Sei! E mora aonde, gatinho? — perguntou, provocativa, só para ver até onde ia aquela conversa besta..
— Caxias. E você?
Suzana não teve coragem de dizer Leblon. Resolveu-se por um bairro menos badalado.
— Flamengo, querido!
— Ah, é mesmo? Tenho uma tia da minha cunhada que mora aí perto! No Catumbi, conhece?
— Só de passagem. Mas é meio longe... rss
— Escuta, linda, você vai muito à praia aí? Tem marquinha de biquíni? Eu adoro!
— Lógico que tenho! Queria que eu fosse à praia pelada, meu anjo?
— Posso te ver? Deve ser muito gostosa. Queria te conhecer, sabe? — disse o homem, animadíssimo.
— Você mora muito longe! Tem carro?
— Tenho sim, mas está no conserto. De ônibus dá menos de três horas! Rapidinho!
— Mas, nem sei como você é!
— Posso mandar uma foto. Me dá seu email e mande uma também.
— Tá certo. Anote, meu lindo.
— Estou enviando. E você? — perguntou a vítima.
— Já enviei — mentiu a mulher.
 
Num instante Suzana abriu o email. Diante dela um cidadão de cavanhaque espesso e cabelo ralo, com imensos óculos escuros, bermuda estampada e uma camiseta justa que acentuava a barriga proeminente, fazia pose, encostado em um fusca. 
 
— E então, recebeu? A sua não chegou! — agoniou-se o sujeito.
— Nem a sua! Que pena! Deve ser o meu provedor. Mas, não faz mal. Vamos continuar com nosso papo. Mas me dá licença um instante que vou beber uma água, certo?
 
Saiu às pressas para calçar uma meia. O frio deixava seus pés gelados. Encontrou uma, esquecida em uma gaveta pelo ex. Tinha um furo no dedão, mas não tinha importância naquela situação.
 
— Voltei — disse Suzana.
— Agora me diz! Então, gata, como está vestida? Só de calcinha?
— Com esse frio? Eu seria louca, né não?
— Estou maluco aqui, excitado, te imaginando! Preciso saber. Então... Como está? De camisolinha transparente?
— Estou vestida para matar...o frio! De calça de moletom, casaco e meia preta com havaiana amarela. Satisfeito, bobão?
 
 
Sem responder nada o “gato de olhos verdes” saiu da sala.
Suzana, rindo, deletou a foto, mas digitou o nick “LouraBronzeadaProcura” e entrou em outra sala. Estava disposta a se divertir naquela noite chuvosa sem ter que sair de casa...
 
 
A ALMA DE UMA CONTISTA IRREVERENTE
Enviado por A ALMA DE UMA CONTISTA IRREVERENTE em 12/10/2016
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