AMNESIA

Laerte estava indo jogar na quadra do bairro. Os demais garotos o avistam com expressão de descontentamento. Ele estava por demais da conta. Abusava das bebidas, se envolvia com garotas, inclusive as dos seus amigos. Tornara-se o baderneiro da vizinhança, promovendo suas festas arrebatadoras, onde a polícia ,e baderna eram ingredientes que não faltavam. Outrora, herói e popular, entre os garotos do bairro, estava se tornando alguém indesejável por qualquer lugar que frequentasse. Até mesmo, por seus pais , que não sabiam mais o que fazer com o garoto. Contudo, ninguém se atrevia a ignora-lo ou rejeitar sua presença. Ele ainda era muito influente e os vizinhos tinham medo de sua terrível fama. Marcinha sua namorada estava sentada no banco da praça que ficava ao lado da quadra. Ela também o avistou , mas baixou a cabeça, não queria conversa com ele. Laerte havia bebido demais na festa da noite anterior e ficado com Duda, uma paixão do seu melhor amigo, Michel. Além de magoar a namorada, magoou também o melhor amigo que estava “puto” com ele. Ele caminha alegremente a caminho da quadra, num sorriso descarado, como se todo acontecimento da noite anterior fosse natural. Os garotos então planejam dar um adura lição no rapaz. Marcinha percebe os cochichos e pressupõe que estão tramando algo. Mesmo de mal com o namorado, ficou preocupada , não podia mentir que ainda não o amava. Ele era um garoto muito amável a certo tempo atrás. Ele chega na quadra.

-Time de fora! Ele se coloca no time, mesmo sem ninguém o convidar ou até mesmo perguntar se o time já estava completo. Mas estavam com um plano em execução, por isso ninguém discordou. Acabaram logo com a partida , para que ele pudesse entrar em quadra.

Os garotos se entreolham. Michel da o pontapé de partida, logo Laerte rouba a bola e começa a fazer suas firulas. Era ótimo com a bola nos pés, tinham que admitir. Ele brinca com a bola na frente de Michel , que faz sinal para Jairo, o garoto mais barra pesada do bairro, que parte feito touro bravo para cima de Laerte. Os garotos se assustam e põe a mão na cabeça. Marcinha dá um pulo do banco da praça, arregala os olhos assustada e corre a caminho da quadra.

-Não era pra tanto, não era pra tanto. Grita Michel apavorado.

Jairo levantou Laerte para cima feito pedaço de papel, que caiu feito cacho com a cabeça no chão. Desmaiou e não lembrou de mais nada, inclusive da sua ida de ambulância para o hospital. Quando acordou, viu as pessoas à sua volta. Sua mãe, seu pai, Michel, Marcinha e o médico.

-Quem são vocês? Perguntou ele confuso.

-Meu Deus ele perdeu a memória! Sua mãe entrou em choque caindo em lágrimas, arrasada com a situação do filho.

O médico levou todos para fora. Explicou que aquela situação era esperada, analisando seus exames neurológicos. A área do cérebro responsável pela memória havia sido afetada. Aquela situação podia tanto ser temporária, quanto permanente. Sugeriu que todos o tratassem bem, que fossem amáveis e pacientes com ele, para que pudesse ter uma recuperação mais eficaz. Isso tinha que valer para todos a sua volta. Amigos, colegas vizinhos e parentes. Eles se entreolharam. Como podia ser, o garoto havia se tornado insuportável, mas decidiram por comum acordo, em ajudar Laerte. Comunicaram pelo bairro a situação do garoto e como deviam se portar. Nada de comentários sobre o passado. Todos ficaram de acordo. Iriam contribuir para um noivo Laerte.

Assim passou os dias, Laerte, sendo paparicado pelos amigos, mimado pelos pais e amado por sua namorada e bem tratado pelos vizinhos. Ele por sua vez também tornou-se alguém agradável. Carinhoso com a família, amoroso com Marcinha, leal aos amigos e sempre educado e prestativo com a vizinhança. Todos estavam encantados com Laerte. Certo dia, passeava com Marcinha de mãos dadas pelas ruas do bairro, quando se aproxima deles, Ritinha. Garota linda, antigo romance de Laerte, com seu caminhar e rebolado maledicente, passa pelo casal e dá um sorriso extremamente malicioso para Laerte dizendo um erótico “oiii”. Ele acena discretamente com a cabeça a cumprimentando a garota. Marcinha apressa os passos e puxa o namorado firme para seu lado.

-Quem era ela? Questionou ele

-Ninguém que vale a pena. Disse Marcinha enciumada

Ainda discreto, Laerte dá uma olhada para trás e pisca malandramente para a garota, que joga um silencioso beijo imaginário para ele. Ele volta rapidamente as atenções à namorada. As tentações eram eminentes, mas a vida deu uma chance para as coisas melhoraram para ele, então tinha que aproveitar a situação, não podia por nada a perder. Afinal, a vida sorri para os bons, e às vezes também gosta dos maus.

kaue moryarty
Enviado por kaue moryarty em 11/10/2016
Código do texto: T5788418
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