Superestimar

Refletir sobre as palavras nunca foi meu forte, mas, quando Vivian me disse “George não me superestime” fiquei a ver navios. Só conhecia a palavra subestimar, e por isso da minha confusão. O fato é que namorávamos já há alguns meses, e a certeza de que ela era para casar me tomava. Porém, quando falei desta convicção ela me respondeu com aquelas palavras. Afinal porque “superestimava” ela, o que isso significava?

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Feitosa chegou no horário, todas as quintas jogávamos sinuca. Na verdade ele jogava, eu sempre assistia, não tinha o menor jeito para esse jogo.

- George, sinceramente, acho que ela não quer casar com você... – me falou sem economizar.

- Porra Feitosa! Assim tu acabas comigo...

- Sou teu amigo, falo para teu bem.

- Mas, o que fiz de errado?

- Pelo que entendo superestimar é algo do tipo “colocar num pedestal”, “fazer dela uma santa”... Talvez ela não queira isso.

- Apenas disse que ela era mulher para casar...

- O mundo agora é outro George... Outro...

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Vivian me convidou para jantar em sua casa. Tivemos uma longa conversa, e entre outros desabafos, ela falou que me considerava machista e que não continuaria o namoro. A verdade só descobri semanas depois: ela estava com outra pessoa, namorava uma colega de trabalho. Não me incomodava suas preferências sexuais, nem tão pouco me sentia ofendido por ter sido trocado por uma mulher. Minha única perturbação é de não ter feito nada, só disse que ela “era pra casar”.

Não atendi a ligação de Feitosa. Hoje não iria para sinuca. Não precisava de um ombro amigo. Precisa mesmo era de um dicionário.

Tarcísio Oliveira

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