A VONTADE DE VENCER  final

 
          Minhas noites de insônia e fins de semana em que passei em casa estudando foram realmente proveitosos.

   Prestei vestibular para o curso de Executivo, na Universidade Estácio de Sá e passei.

          Enquanto isso coloquei minha mãe para fazer um curso de corte e costura, e a incentivei até a fazer a sua formatura. Também a coloquei para estudar a noite e terminar o ensino fundamental, pois minha mãe precisava saber mais para administrar suas costuras, e isso me dava muito orgulho - ver que mamãe aproveitava bem essas pequenas oportunidades. Eu a teria levado a continuar os estudos, mas pela vida árdua que levara durante anos na lavoura desde muito menina, mamãe começou a sofrer do coração.

     Meu pai reclamava de tudo e de nós duas. Dizia que eu estava muito moderna e estava levando minha mãe a pensar como eu. E eu em silêncio dizia: Graças a Deus!

     É preciso acreditar que mudar de vida é possível sim, com esforço, trabalho e estudo.

   Minha mãe passou a ser a costureira mais requisitada onde morávamos. As costuras se acumulavam porque com o tempo minha mãe tornou-se uma modelista especializada em costura para crianças.

     Até que um dia, minha mãe desmaiou e ao levá-la ao médico descobrimos que ela precisava de um marcapasso.

     Fiquei desesperada pois por melhor salário que eu tivesse, jamais daria para adquirir um aparelho desses.

     E eis que Deus intercede novamente.

     Comecei a trabalhar no hospital da universidade e conheci então, diversos fornecedores de equipamentos hospitalares. 

     No mesmo dia em que lutava para conseguir uma vaga para transferir mamãe para o hospital da universidade, deparei-me com um desses fornecedores.

     Preocupou-se com minha cara de cansada e indagou se eu estava bem. Contei a ele toda a minha luta e ele prontamente, orientou-me a pedir ao médico um formulário do SUS, onde seria possível operar minha mãe e colocar o marcapasso, sem custo.

     Enquanto isso, ele que conhecia o Diretor do hospital, iria pedir agilidade dos documentos de internação. 

     E para minha felicidade consegui resolver tudo no mesmo dia e minha mãe foi imediatamente para a sala de cirurgia a pedido do Diretor do hospital.

     Tudo transcorreu muito bem.

     Como não tinha condições de cursar uma faculdade de longa duração, optei por uma das primeiras graduações tecnológicas do país. Em dois anos estava formada, mas para minha feelicidade com uma carga horária equivalentee a um curso de duração plena..

     Alguns anos após, este curso possibilitou que eu fosse enquadrada no último cargo técnico de nível superior.

     Dois anos após a cirurgia de mamãe já estava casada e esperava meu primeiro filho, dos três que Deus me deu.

     Estando mais velha, lutei muito para que meus irmãos também fizessem um curso superior, mas apenas um deles, anos mais tarde viria a cursar engenharia civil, pelo emprego que tinha na companhia de água e esgotos da cidade e que lhe exigiu ter formação superior.

     Eu realmente consegui realizar o que desejava - mudar de vida. Custou-me tempo, dinheiro, noites de insônia, mas trinta e sete anos após, estou finalmente aposentada.

     Por isso, aconselho a todos os jovens que lutam por um lugar ao sol a dedicar-se aos estudos, ter um emprego, e acreditar que é possível realizar seus sonhos de liberdade e qualidade de vida.

     É fato que contei com o apoio de muita gente boa, honesta e sincera ao longo do caminho. Esforcei-me por estudar e até redirecionei minhas paixões para ter um emprego que me desse mais dinheiro para viver e realizar meus projetos, pois na verdade a minha paixão teria sido formar-me em contadora. 

     E que vale a pena frisar que meu pai também foi contra, pois teria que trabalhar no meio de um monte de homens (dizia ele) e precisaria lutar muito para me impor como mulher e profissional.

     Ah, se ele adivinhasse tudo o que passei para chegar a me aposentar, mas isso talvez venha mais tarde, em outro conto.

     E tenho a certeza, de que nada seria possível, se eu mesma não acreditasse que tinha capacidade.
 

 
Maria de Fatima Delfina de Moraes
Enviado por Maria de Fatima Delfina de Moraes em 01/10/2016
Reeditado em 01/10/2016
Código do texto: T5778113
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