Análise de Coxinha - Parte VII (FINAL)
Um dia depois, Heitor entrou na lanchonete, olhou o estabelecimento, viu que o espaço também servia refeições no modelo self service, pois reparou em mesas e no aquecedor de comida no lado esquerdo, ao fundo do salão. Ele sentou no banco e perguntou se tem coxinha, a moça disse que sim e também perguntou:
- Quer que dê uma esquentada?
- Só trinta segundos...
A moça pegou a coxinha da “vitrine” e questionou se ele também queria algo para beber.
- Não, obrigado, só o salgado mesmo!
Após duas mordidas e se deparar com pouco recheio, Heitor perguntou:
- Você trabalha aqui faz tempo?
- Faz pouco tempo, mudou o dono...
- Ah, sabia que eu vim aqui há um tempão e também comi uma coxinha, mas acho que naquele tempo, tava melhor que essa...
A garçonete ficou ouvindo sem muito interesse a conversa do garoto, que continuou:
- Deve ter mudado de dono muitas vezes, parece que cresceu aqui, mas foi aqui, eu sai de lá do hospital com anemia e invés de comer o agrião, meu pai me trouxe aqui e me empurrou uma coxinha como essa, apesar de que já foi melhor...
A moça olhou com cara feia e afirmou:
- Os salgados estão frescos...
- Eu sei, eu sei que é de hoje, confio nas lanchonetes, pois aqui perto tem faculdade, hospital, isso aqui é frango e não resto humano, hahaha, mas moça, é bom ter me curado da anemia, ter engordado, estar forte e aqui pra relembrar de tudo, eu espero que isso aqui nunca deixe de ser uma lanchonete, onde eu pago?
- A gente tá sem caixa por causa da mudança, paga aqui mesmo...
Heitor pagou a coxinha, se despediu da garçonete, ela após muitos “hum”, “sei” e “que bom”, proferidos dentro da conversa com o garoto, saiu de trás do balcão, pegou um pano e limpou algumas mesas com cara de quem comeu e nunca gostou.
Ao sair do estabelecimento, Heitor notou uma faixa de publicidade da faculdade daquela rua, em frente ao hospital e ao lado da lanchonete. Ele pensou em entrar e ver os preços do curso de psicologia. Ficou animado com o desconto para iniciantes que estava descrito no cartaz, com calma, mostrou a identidade para o segurança que lhe indicou o caminho da secretaria:
- Segue reto, filho, lá no final você vai ver a placa.
- Obrigado!
Ao entrar, viu que tinham duas moças esperando o atendimento, ficou em silêncio até que em questão de cinco minutos, uma funcionária o chamou:
- Boa tarde, no que posso ajudá-lo?
- Boa tarde, bom, eu vi a faixa lá fora e fiquei interessado em saber os valores pro próximo semestre, quero informações sobre o curso de psicologia.
- Psicologia, bom curso, eu vou te mostrar a planilha de valores, tudo bem?
Após ver os bons descontos, o rapaz ficou animado e pediu a lista de documentos para iniciar sua matrícula, mas esqueceu de uma etapa.
- Então, antes é preciso fazer uma provinha para aprovação, a prova é gratuita e ocorre em um desses domingos aqui...
A funcionária o mostrou no calendário as datas. Ele agradeceu as informações e saiu andando pelo pátio do estabelecimento. Era uma faculdade bem menor do que a que ele tinha ido da última vez, mas alguma coisa fez com que ele se animasse com a ideia de estudar ali. Antes de sair, o entusiasmado analisador de coxinhas sentou em um banco para contar o dinheiro para ir embora quando se distraiu com o que viu à sua frente: uma cantina vazia, mas com três coxinhas praticamente perfeitas em um espaço que poderia ter uns cinquenta metros de distância. Eram coxinhas com cor, bem mais frescas do que a última comida na lanchonete, parecia valer à pena provar e fazer uma análise sucinta sobre o sabor, formato e sensações.
Heitor se levantou do banco, colocou o dinheiro no bolso, viu que tinham poucas pessoas circulando pelo pátio e quando chegou mais perto da cantina, ouviu barulhos de moças conversando e olhou para trás, provavelmente as duas mulheres eram futuras alunas da instituição e andavam com envelopes com os possíveis documentos para as possíveis matrículas. Uma delas estava de short curto e possuía um belo par de pernas, coxas tão bonitas como as coxinhas que já estavam esquecidas pelo rapaz, que focou o olhar para as belas coxas morenas daquela possível estudante, Seu pensamento já era possível, ele sorriu e mandou uma mensagem para Mônica:
- Vou analisar coxinhas e coxas... E pessoas também, mas isso é o de menos!