O FATO
Aquela história não podia sair dali. Muitos contavam fatos sobre o acontecido, mas o maior buchicho que se ouvia é que era um fato indizível. Havia muitas questões a serem resolvidas e todos queriam auxiliar, mas ninguém se atrevia. Era um fato que requeria equilíbrio, atenção e avidez e todos sabiam no silêncio de seus pensamentos que era preciso espera e cautela. Há muito ninguém se atrevia a opinar de forma clara, todos preferiam aterem-se ao olhar silencioso.
O fato começara corriqueiro. Primeiro como se nada fosse. Era silencioso e todos não se deram conta de que poderia se tornar grave. Marcaram um momento de encontro. Primeiro para tentarem achar uma solução depois para, simplesmente, fofocarem sobre o fato.
Era um ano diferente. Muitos queriam que tudo fosse mudado, mas outros preferiam ficar como estava. Era mais cômodo e também mais fácil lidar com um fato concreto. A mulher gritou:
- Ele chegou!
Foi um burburinho geral. Ele quem? Ninguém queria dizer o nome, muito menos uma palavra que pudesse soar mais alto e exigir que fosse dita novamente expressando uma opinião, revelando um legado. Uma criança, que ia passando, e fala exatamente o que pensa disse:
- É ele mesmo.
E saiu correndo. Quanto mais corria, mais gritava. Todos ficaram estarrecidos. Uma criança perceber aquela presença era algo realmente impressionante. Procuraram por uma explicação. Queriam que aquela criança falasse o que pensa, mas ela apenas gritava e se agitava loucamente. A mãe apareceu de repente.
- O que aconteceu? Perguntou num misto de perplexidade e calmaria.
Ninguém ousou responder. Quem seria louco em se envolver num fato tão nefasto? A mãe, no silêncio do seu coração, elevou uma prece ao seu Deus. Seu filho não poderia entender daquele fato. Precisava ser livre. Não estar preso a estereótipos e muito menos a padrões ditados pela humanidade.
Aos poucos os ânimos foram se acalmando. Procuraram ser mais mansos e na mansidão do pensamento foram buscando soluções. A primeira solução era o diálogo. Quem pudesse contribuir, que contribuísse. Começaram o debate. Discutiram situações e sugeriram soluções. De repente partiram para um único gesto: a paz. Que cada um fizesse o que lhe coubesse, mas que todos buscassem um único fim: o bem da humanidade.
Neste exato momento ouviu-se uma voz suave, como se fosse um murmúrio:
- É o fim… É o fim…
Caiu, então, uma cortina de fumaça e todos olhavam estupefatos para uma sombra suave que descia sobre a multidão. Calaram se as vozes, baixaram-se os ânimos, silenciaram-se os corações e aquela criança voltou a dizer:
- Eu sabia.
A mãe, que havia pedido a intervenção divina, agradeceu silenciosamente. Quem estava por perto não conseguiu compreender o porquê de uma criança conseguir compreender aquele fato.
Então uma voz suave retumbou em todos os corações:
- Eu sou a paz!
Pararam estupefatos e diante daquele fato se abraçaram, num único abraço. Aquele fato deixou de ser um fato e passou a ser uma realidade. Houve um grande encontro de opiniões e uma força tarefa para que o bem vencesse. A partir daquele momento a cada problema apresentado todos se uniam e buscavam soluções.
Quem estava ali testemunhou o fato e eu o relato para que não caia no esquecimento.