LULA LÁ: Lava-jato já!

Já na pista de decolagem, ele parou por um instante para falar com um repórter da Globo que havia sorrateiramente furado o bloqueio dos policiais (ou tinha sido claramente beneficiado por eles. Impossível dizer).

"Nesse momento difícil, eu quero me dirigir a todos vocês para esclarecer de vez algumas coisas. A primeira e mais importante é que eu e a minha turma (Ali babá e os quarenta ladrões) estamos sendo injustamente PERSEGUIDOS por outros ladrões (trezentos picaretas com anel de Doutor).

São as mesmas figuras escrotas e corruptas que nós combatemos por mais de trinta anos e que agora ressurgiram das cinzas para tentarem se vingar de qualquer maneira. Estão caçando chifre em cabeça de cavalo. Mas isso não pode e nem vai ficar assim. Eles não perdem por esperar.

Em segundo lugar, agora estes filhos da mãe estão se escondendo atrás da Justiça para disfarçar um caminhão de artimanhas e más intenções. Querem nos atingir através da boa fé e da ingenuidade de alguns agentes, delegados, promotores, procuradores e juízes, que ouviram o galo cantar, mas não sabem aonde foi.

Acho que são os mesmos incompetentes que não conseguiram enxergar provas na captura de um helicóptero cheio de cocaína, pertencente a um deputado da oposição, porque não possuíam convicção sobre a culpa desse criminoso, digo, de Vossa Excelência.

Mas que infelizmente começaram a difamar e a prender eu e os membros do meu partido, sem provas concretas, porque dizem ter a convicção que todos nós somos culpados de alguma coisa até que se prove o contrário. Isso é um verdadeiro absurdo e me faz lembrar da caça as bruxas em um passado distante.

Em terceiro lugar, se tantos políticos nacionais foram beneficiados por empreiteiras durante décadas, fazendo jus a fazendas, mansões, viagens, automóveis, contas polpudas em paraísos fiscais, aviões e festas, porque eu não posso ser agraciado com um simples apartamento de cobertura na praia e um sítio bacana no campo? O que move essa discriminação e esse preconceito? Só porque eu sou um mísero nordestino?

Em quarto, toda a classe política nacional sempre foi financiada de maneira ilícita, não importando o período e a forma (através de empreiteiras, desvio no orçamento, mensalão, petrolão, troca de favores em votações e licitações e por aí vai). Até o maior presidente norte-americano (Lincoln) usou desse tipo de instrumento. E aí eu pergunto: qual o problema seguirmos pelo mesmo caminho?

Em quinto, eu não me sinto nenhum pouco culpado por ter inchado a estrutura do Estado e beneficiado grande parte dos meus correligionários com todo tipo de favor, cargo ou benefício social, seja ele legal ou ilegal. Isso faz parte da nossa tradição política, e eu apenas agi assim para honrá-la. Nada mais.

Em sexto lugar, eu também não me sinto culpado por ter gasto o dinheiro do BNDES em grandes obras de infraestrutura em países governados por ditadores seguidores da mesma ideologia do meu partido. Acho isso muito sensato e coerente. E também uma ótima ideia. Melhor que fazer negócio com os americanos, japoneses ou alemães.

Por fim, nesse país eu só posso ser comparado à figura de Jesus Cristo. Ninguém fez mais que nós dois pelo povo daqui. Então, por essas e outras, eu tenho certeza que mereço ser mais bem tratado e espero que isso volte a acontecer até as eleições para presidente em 2018.

É isso aí. Muito obrigado pela atenção e até mais tarde."

Fechou os olhos, respirou fundo e passou as costas da mão pela testa suada. Logo em seguida subiu as escadas e embarcou algemado em uma aeronave da Polícia Federal com destino a Curitiba. Em seu íntimo encarava tudo aquilo como se fosse o começo do fim. Do seu fim.

Mello Cunha
Enviado por Mello Cunha em 26/09/2016
Código do texto: T5772856
Classificação de conteúdo: seguro