Indomável, leve, insólita e mortal
Eu a encontrei. Indomável, leve, insólita e mortal. Antiga parceira de traquinagens na época das reres (recuperações infinitas), na época das primeiras séries, eternos gazeadores de aulas, após quase duas décadas, ela e eu nos encontramos novamente.
Num feriado qualquer, numa praça qualquer, por intermédio do acaso, cara a cara, olho a olho, risos desmedidos, dois corpos se entrecruzam, param, reconhecem-se.
- Damião!
- Judite!
- Você se lembra?
- ... Sim, do Filomena (escola aqui de União)
- Isso. Rsrsrrs E o Cosmo?
- Vai bem. É servidor público e estudante de direito.
- E tu? O que tá fazendo?
- Eu colo e selo cartas. É divertido. Nas hora vagas, nos intervalos mundanos, estudo Letras, na Uneal. Nada muito importante, nota-se. Porém, acalentador a um espírito vadio.
- E tu?
- Igualmente coisas quase desnecessárias. Nada muito importante pra o Capital. Não sou nem médica, nem advogada, nem engenheira... Faço Tatuagens. Vê só... Faço o que gosto. É divertido. Pode não dar dinheiro, mas dar prazer.
- Rsrsrsrs....
- E jão?
- Jão?
- Jão que sentava atrás da gente... O que faz da vida?
- Nada. Morreu. Morreu ainda antes dos vinte. Deixou filho e amantes. Mais um bem intencionado no mundo que foi cedo, vítima de um dos males da sociedade moderna. Trânsito.
- ...
- É isso. Muitos dos nossos colegas de Filomena não mais dividem com a gente das safadezas e carestias correntes, pois uns, como o João, já morreram, ou foram presos, viajaram pra Pasárgada, enlouqueceram até. A maioria não deu pra 'grande coisa na vida', como nós, segundo a nossa amada sociedade.
- Mas ainda estamos vivos e um tanto lúcidos. Isso é de grande valia.
- Kkkkkk...
- Kkkkkk...
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Ao final, um até logo. Ou terá sido um até nunca?
Talvez Judite seja mais uma ilusão em meio a tantas.