Aquele conto do sábado

Era uma vez não existe nesse conto, o que realmente importa aqui afeta aquela mulher naquele apartamento de fora tão silencioso, mas é importante lembrar que apenas esta proprietária sabia do barulho ensurdecedor que ali estava preso. Eram dez e meia da noite, isso ela sabia depois de checar o telefone pela milésima vez, com aquela velha esperança de receber qualquer sinal do outro lado da linha, uma mensagem quem sabe? E para então se decepcionar pela milésima vez, o que ela não buscava, mas precisava confirmar - não havia sinal algum. Alguns passos eram dados em direção aquele quarto desarrumado, sim, quase uma semana sem mudar nada naquela bagunça, reparou aquelas paredes rabiscadas, na esperança de reconhecer algo que não tornasse aquele quarto exterior a ela tão estranho, habitava aquele apartamento há exatos dois anos, mas naquele momento sentia-se como uma visita a procura de abrigo.

Mulher na casa dos trinta anos, com olheiras profundas de três noites mal dormidas, misturando com aquelas sardas que assim dizia ela: “Faziam festa enfeitando aquela face” agora tão desconhecida e inerte a frente de um espelho. Aperta forte o celular segurando com sua mão direita, sentindo-o vibrar, para então recusar aquela chamada, no terceiro toque; e sabia ela, era preciso recusar aquela chamada. O que a fez sentir-se acovardada. Mas, não era para se estar? Para mim pouco importa quem estava do outro lado da linha, meu dever é continuar narrando, então prosseguirei... Ela volta a encarar aquela face pálida, agora com um olhar desesperado, passando a vista rápido sobre aquela sua marca de nascença um pouco acima do seu nariz meio rebitado, pensando em retornar a ligação, mas não quer sua fraqueza exposta, e chora, igualando aquela noite as demais, era contra si própria que ela buscava se defender? Isso naquele momento, nem ela muito menos eu atreveria responder. Sai daquele cenário deitando-se sobre o chão, que é o único contato que ela julga necessário para repousar aquele corpo de quase trinta anos, chão frio meio encoberto pela fina camada de poeira. E, ali ela não queria passar a sua noite de sábado, regada a incompreensões, que nem ela mesma buscou, era preciso reafirmar isso, sempre que possível , culparia o amor por toda aquela confusão que ali cercava... E eu como promessa não pretendo largar esse conto pela metade, mesmo que o drama da personagem me cause um pouco de exaustão. Voltando agora àquela mulher, que permanecia julgando o amor como um mal que vem contra ela a deixando apenas tentativas falhas e levando a sua miudeza de felicidade. Mas é preciso ressaltar que o amor venha ser apenas um termo, as confusões são nós quem criamos, enfim... Em tempos como esse, caro leitor, o amor têm lá suas estratégias para alcança-lo, e mergulha nesse sentimento quem tiver coragem, para então seguir os fatores impostos pelo século XXI. Onde há aquela disputa de que quem quase não demonstra o sentimento e não sai ferido no final, é o herói daquela façanha. É preciso mostrar o desinteresse de uma forma indireta para quem segura do outro lado da corda, é o sentimento mais egoísta para quem prefere seguir essa linha de raciocínio de fingir se importar de menos, ligar de menos, ignorar sempre que possível para enfim chegar ao que se busca, amor agora é medo, é julgamento social para aqueles que não fazem seus joguinhos inúteis para provar que não é um alvo fácil, e NÃO de forma alguma vá atrás, é proibido postar-se como um ser frágil, nessa disputa quem for o mais sentimentalista, perde. E se você não for adepto a fingir que não se importa, um ponto a menos, é melhor aprender certos tipos de frieza para se embarcar na busca de não se ferir, mas te ferir, sim, eu posso, mas veja bem, é para que esse sentimento seja duradouro conforme os padrões... E que alguém dê a partida para essa loucura! Firam-se bastante, mas é em nome desse amor ridículo, moderno como quem se comunica por sinais de fumaça. E que aceitemos isso como uma coisa normal, apenas seguindo suas vertentes, para que o nosso orgulho vença que no final é o que valerá a pena. E isso aquela mulher naquele apartamento estava fazendo agora, preferindo a solidão como um escape. E que vá para o hospício aquele que se atreva a não bancar o orgulhoso, denominado “trouxa”. Deixo aqui o meu “FIM” para aquela mulher naquele apartamento, pois é assim que se termina um conto. Fim.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 17/09/2016
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