Análise de Coxinha - Parte IV
Com a câmera de vídeo do celular ligada, Heitor começa a gravar:
Estamos aqui com a senhorita Mônica, ela vai responder uma pergunta que interroga o mundo inteiro, temos aqui uma coxinha, temos o bico e a bundinha da coxinha, mas e aí, Mônica, você começa a comer uma coxinha pelo bico ou pela bundinha?
Desliga isso, idiota, eu como a coxinha pelo lado dela...
Ela pega a coxinha, dá uma mordida entre o bico e a bundinha, Heitor para a gravação e toma a coxinha da mão dela:
- Agora que você começou, vai comer o resto, eu quero ver você comer essa coxinha, sua morta de fome!
Ele bebe o suco, enquanto a moça abocanha a coxinha com mordidas que fazem o moço do par de olhos pretos pegar de novo o celular, colocar em modo de gravação e filmar aquele um minuto e meio em que pedaços da coxinha foram sendo comidos pela moça, do bico a bundinha, se foi uma coxinha e aquilo sensibilizou Heitor que confessa:
- Como eu gosto de ver alguém comendo com vontade, sensacional, incrível!
A moça muda de assunto:
- E você não vai pedir nada?
- Vou, quero...
- Uma coxinha?
- Não, quero um pão de queijo!
- Pão de queijo não mata a fome...
- Eu quero qualquer coisa, não quero encarar a comida da minha mãe, essa semana a parada tá insossa...
Heitor se levanta, vai até o balcão, pede o pão de queijo enquanto Mônica o ignora com o celular na mão respondendo mensagens, sendo que as mensagens viraram diálogos e esses diálogos fazem com que um silêncio se permeie pelo ar até que chega o pão de queijo, o moço o abocanha rapidamente, se irrita e a chama para ir embora:
- Hei, gravar um vídeo de dez segundos não rola, né? Mas ficar teclando aí pode, é por isso que cansei de tentar analisar as pessoas, porque elas são sempre as mesmas, levanta, vamos pagar e vazar daqui.
De volta para casa, Heitor só queria esticar as pernas deitado em sua cama e ouvir música para relaxar, não deu muito certo, pois houve a interrupção de sua mãe que pediu para que ele visse o saldo dos cartões de crédito. Depois disso, seu pai pediu para que comprasse papel higiênico sendo que mais tarde, o próprio garoto sentou no trono e abiu a embalagem do papel higiênico recém comprado e fazendo suas necessidades, pegou o celular do bolso e reviu o vídeo de Mônica saboreando a coxinha, não houve excitação, mas uma contemplação de sua parte.
Passaram uns dias e o garoto não havia comido mais coxinha por conta da azia que este salgado lhe dava, aliás, todos os salgados o deixavam com este tipo de queimação, era batata, comer e ter azia.
O telefone toca, é Rafael, um amigo:
- Alô, mano, tô saindo do trampo, posso passar aí?
- Pode!
- Tô com fome e tô querendo comer uma coisa, adivinha...
- Pizza?
- Quero uma coxinha, conhece algum lugar que tenha uma coxinha boa?
- Em todo lugar tem coxinha, o problema é o lugar em que tenha uma coxinha boa, quando você chegar, a gente vê!
- Beleza, até mais.
- Até!
Era fim da tarde, um frio na cidade de Guarulhos e uma hora depois, Rafael chegou, entrou no quarto de Heitor, viu a coleção de livros na prateleira, cumprimentou o seu amigo e perguntou:
- E aí, onde tem uma coxinha que preste?
- Rafa, ali na avenida tem aquele lugar que o salgadinho custa centavos, setenta centavos, ali não dá, é comer e morrer de azia, na padaria grande não servem salgados mais nessa hora, depois das seis, só pizza e no mercado não vende nem aquelas que você frita, mercado já vendeu coisa que prestasse...
- Véio, você só me disse lugares errados, qual é o lugar certo?
- Deixei pro final pra te falar que naquele lugar onde comemos pastel lá embaixo, ali mesmo tem a super coxinha, meu amigo, a super coxinha!