Odeio Circo
Os olhos de Matheus brilhavam ao ver aquele apresentador de cartola com fraque cheio de lantejoulas. Suas perninhas na arquibancada balançando euforicamente ao som das músicas tocadas. As mãozinhas tão pequenas em frenéticas palmas no ritmo das batidas do coração também acompanhavam as músicas.
Sua risada contagiava o avô, aquele senhor de cabelos brancos e barba espeça, ele sentindo toda a alegria do neto, ria de felicidade. Matheus não tirava os olhos dos palhaços, e sua risadinha alegre era a música para os ouvidos cansados do avô.
Ao ver o globo da morte, ele se agarrou com força nos braços do avô, o garoto nem piscava, era um misto de medo e empolgação, que ele mesmo não soube explicar. O barulho era apavorante, mas ele não conseguia tirar os olhos das motocicletas que pareciam voar dentro do globo.
O garotinho suspirou fundo vendo os trapezistas:
- Veja vovô! Estão voando! Eles voam!
O avô sorria feliz ao ver o neto espantado.
Quando chegou a vez do domador de feras, Matheus cobriu os olhinhos com as mãos sujas de algodão doce. O avô insistia para que ele visse os leões e os tigres:
- Está perdendo Matheus. Não tenha medo! Olhe!
Mas o menino continuava com as mãos no rosto respondendo:
- Não é medo vovô. Só não gosto de ver os animais sendo judiados... Eles deviam ser livres.
O avô até pensou em falar como os animais eram tratados no circo, mas desistiu pois aquela inocência toda era cheia de lógica.
Por fim, foram embora, e de mãos dadas pelo caminho, o avô percebeu que o garoto chorava.
- Que houve? Porque chora? Não gostou do circo?
Matheus suspirou fundo, limpando as lágrimas e fazendo que sim com a cabeça e o avô continuou:
- Se gostou, porque chora?
- Porque eu odeio circo! Ele chega, me faz feliz e depois vai embora... E fico aqui com esse vazio dentro de mim.