FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AMOROSO-ROUPA*
Olhava-se pela milésima vez no espelho. A maquiagem perfeita, os brincos vermelhos de imitação de rubi. O sutien de bojo que salientava o busto que já era perfeito. O salto não muito alto, mas deixava a bunda já avantajada mais empinada. Mas mais importante de tudo. O vestido tubinho vermelho que ele tanto gostava.
Era a chance dela se redimir. Tinha o tratado tão mal da última vez. Tudo por causa do seu ciúme doentio. Não conseguia entender porque agia assim. Sempre fora tão desencanada, tão moderna. E ele não tinha nada de especial. Não era bonito, não era rico e nem era famoso. Mas pela primeira vez se sentia assim ao lado de alguém, frágil e forte ao mesmo tempo. Recusava a admitir a si mesma, mas a cada dia tinha mais consciência que estava apaixonada.
A festa era na casa da Francesca. O velho esquema de sempre. Cada um levava uma bebida. Funk, Wesley Safadão e outras músicas do gênero. Todos bêbados e tudo incrivelmente chato. Só ia mesmo para encontrá-lo. Foi o caminho inteiro pensando na cara de surpresa que ele faria ao vê-la. Não era a primeira briga deles. Mas por pior que elas fossem, ele nunca resistia ao vestido vermelho. O estava usando quando se conheceram. Meu Deus, o olhar de embasbacado dele! Entrou na festa glamourosa, distribuindo sorriso e charme, fingindo não notar os olhares ávidos que provocava. Até que o viu.
Em um canto da área de serviço abraçava e beijava sua melhor amiga. Ela não chegava aos seus pés em beleza ou elegância. Mas não era raiva o que sentia. Era uma tristeza funda, que rasgava o peito. No rosto dele um sorriso solto, natural, feliz. Que ele nunca teve com ela. Saiu da casa desnorteada. Foi encontrada em sua cama na manhã seguinte, morta por overdose de remédios. Usava o vestido vermelho