MEMORIAS DE UMA AVE

Nasci em uma família numerosa. Os meus irmãos eram um pouco parecidos comigo, tanto no tamanho quanto a cor. No início foi difícil, mal nos aguentávamos em pé, e nos apoiávamos uns nos outros. Em pouco tempo fomos separados dos meus pais, e cada um foi para um lar diferente. Até hoje não sei para onde os meus irmãos foram levados. O lar em que fui morar tinha uma fêmea da minha espécie. No início relutei ficar preso em um espaço pequeno, mas com a ajuda da minha companheira fui me adaptando aos poucos. As pessoas desta casa me tratavam muito bem, e até abriam a gaiola de vez em quando. Porém mantive o meu jeito selvagem e beliscava quem tentava tocar em meu corpo. Todos os dias eu e minha companheira passeávamos pela casa, principalmente os lugares mais altos. Ela me ensinou onde ficavam esses lugares e até brigávamos por uma visão privilegiada de tudo. De vez em quando escutávamos barulhos estranhos como buzinas de carros (aprendi esse nome muito tempo depois), mas também sons de outras aves. As pessoas desta casa saiam de manhã e chegavam à noite. Eu me minha companheira tinham o dia todo para explorar cada recanto daquele lar. A comida e a "bebida" estavam sempre a nossa disposição. A minha companheira comia muito e por isso estava ficando obesa. Mas eu comia pouco para manter a minha forma. As minhas penas começaram a crescer, e de vez em quando voava pela casa. Certo dia via uma porta aberta e tentei um voo mais alto. Eu sobrevoei o telhado da casa e aterrisei nas palhas de um coqueiro da casa vizinha. Ali tive pela primeira vez uma nova visão de mundo. Lá embaixo tudo parecia pequeno. O horizonte mostrava para mim muitas casas de humanos e poucas árvores. Ao meu lado pousou um ser estranho chamado papagaio que me falou sobre um novo mundo além do horizonte. Fiquei surpreso com essa informação. A minha visão de mundo se restringia apenas a espaços pequenos. Despertei das minhas reflexões quando a minha companheira começou a me chamar insistentemente. Eu respondi ao seu chamado e fui localizado pelas pessoas daquela casa. De volta ao lar relatei a minha companheira essa grande aventura. Disse a ela que tudo era estranho aos nossos olhos. No coqueiro visualizei gaiolas enormes chamadas de prédios ( o papagaio me disse que esse era o nome), e seres enormes também, mas poucas árvores. Desde esse dia fiquei com vontade de retornar aquela palha de coqueiro. A sensação do vento batendo em meu bico, e a liberdade também foram especiais para mim. A minha companheira não concordava comigo e afastava qualquer possibilidade de sai daquela casa para viver alguma aventura. Ela já se acostumara a viver em cativeiro. Por um tempo exclui a possibilidade de voar até o coqueiro. Às vezes sonhava passeando por lugares verdes e belos, e de encontrar com os meus irmãos ou parentes distantes. No último domingo acordei com o espírito aventureiro e de repente vi uma janela aberta. Eu não podia desperdiçar esta oportunidade, então abri as asas e voei tão alto que me causou surpresa com a minha façanha. Eu chamei a minha companheira para fugirmos juntos. Ela chegou até a janela, mas desistiu da aventura. Mas segui adiante. Agora estou conhecendo outros lugares, outros seres e e vendo muitas árvores. Um mundo novo distante daquela casa se apresentava para mim. Talvez um dia eu volte àquela casa, mas estou vivendo a minha aventura, e este prazer ninguém tira de mim. Eu vou interrogar outras aves para saber o nome destea lugares para enviar uns postais a minha companheira. Estou escrevendo essas memórias de uma ave para estimular as pessoas que não sabem do limite dos seus sonhos, e das suas capacidades. Testem as suas asas diariamente. Façam pequenos saltos que de repente vocês podem alcançar voos inimagináveis.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 04/09/2016
Reeditado em 04/09/2016
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