Cerveja não é de Deus...

Na minha garimpagem sobre informações gerais de coisas da vida, descobri que a cerveja é a bebida que se encaixa melhor no espírito da globalização. Os quatro componentes principais de sua fabricação água, malte, lúpulo e levedura são os responsáveis para esta característica flexível. No texto que lia esses dados, dizia que com a receita certa, a cerveja podia ser produzida e teria o mesmo sabor do local de origem. Resolvi comentar com o motorista do táxi. Ele me respondeu aumentando o volume da música que escutava no carro. Era uma música gospel. Perguntei se ele tinha algum problema com o assunto, de pronto me falou que era um filho de Deus, e essas coisas mundanas não tem espaço no reino do Senhor. Me calei.

Felizmente a viagem já estava quase no meu destino. Desci e procurei um local que vendesse o tal líquido. O mais próximo era um shopping. Já passavam das dez horas da manhã, e escolhi um dos fast foods que vendiam long neck. Ao rapaz que me serviu perguntei:

“O senhor acho que se Deus viesse a terra, beberia cerveja?”

“Eu acho que não.”

“O senhor é de alguma religião?”

“Não... Mas, acho que Deus beberia uma bebida mais cara.”

Fiquei satisfeito com a resposta do cidadão, objetiva e direta... Crua. Ele partia do princípio da onipotência divina, talvez.

Após meus compromissos passei num supermercado e comprei mais umas latas de cerveja. Em casa não tinha nenhum disco de música erudita. Acho que também não era uma boa trilha. Na rede encontrei músicas que falavam na bebida amarela. A banda “Blues Etílicos” canta “Vem cerveja, vem beijar o meu sangue... Alquimia de espuma libertaria... O mundo é veia aberta a minha volta... Hoje eu estou bebendo cerveja...”. Também homenageiam com outra canção “Puro Malte”, mas, o trecho que me chamou atenção diz “se a cerveja for fraca da dor de cabeça e ressaca...”, pelo motivo de começar a sentir um leve incomodo nas têmporas, depois de ter ingerido seis latas. O que veio se concretizar na manhã seguinte com uma tremenda ressaca. Procurei matérias que indicavam como melhorar de uma ressaca, porém, nada que estivesse afim de fazer.

Pedi ao porteiro do meu prédio que localizasse o mesmo taxista do dia anterior.

O volume da música gospel já estava alto.

“Não me leve a mal senhor, mas lembrei-me que a bebida alcoólica é citada muitas vezes na bíblia... Ainda por cima as substâncias que servem para criar a cerveja são todas da natureza.”

“A bebida que é citada na bíblia é o vinho. A tal cerveja leva o homem a comente imprudências terríveis... Por isso não leva ao reino dos céus.”

“O vinho não?”

Ele interrompeu nossa conversa aumentado ainda mais o volume.

Evidente que não podia ser assim tão intrometido nas concepções religiosas das pessoas. Mas, argumentos tão decorados me aguçava a cafajestice. No fim era a falta de discussões humanas mais aprofundadas que me deixava ácido, e escolhia gente mais infeliz do que eu para confrontar. Amanhã planejo “esquecer” uma caixa de cerveja no banco traseiro, vamos ver qual trilha ele tem para isso.

Tarcísio Oliveira

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Tarcísio Oliveira
Enviado por Tarcísio Oliveira em 03/09/2016
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