O Sonho de Juvenal
O Sonho de Juvenal
Era véspera de natal e Juvenal estava louco para jogar na loteria de fim de ano para ver se saia da miséria na qual vivia com a mulher Ester e seus dois filhos pequenos. Tinha por hábito jogar toda semana, mesmo que na mesa lhes faltasse o alimento, afinal se ganhasse teriam alimento com fartura. Juvenal era boa praça. Vestia-se humildemente e sempre com a mesma calça de brim antigo, afinal, só tinha aquela mesmo. A camisa era sempre s surrada de malha que era lavada à noite para ser usada no dia seguinte. O tênis era gasto e por dentro havia colocado um papelão para no caso de chover, não lhe molhar o par de meias único também. Um bom sujeito querido por todos, mas era gastador da loteria. Viciado em cachaça cigarro e loteria. Amigos o alertavam que não era uma boa coisa ficar jogando jogando e sempre sem ganhar. Mas uma hora ele tinha certeza que faria a sua fezinha de forma a acertar todos os números.
Naquele final de ano estava sem dinheiro para fazer a sua aposta. Fora a uns amigos mais chegados e não conseguira o pouco dinheiro que precisava. Estava arrasado. Sua esperança para um 'Ano Bom' ser bom de verdade poderia ir por água à baixo. Mas tinha acima de tudo, fé.
Era trabalhador. Carregava caminhão de madeira em uma madeireira em Bonsucesso e ganhava pouco, o suficiente para viver mal, mas sempre com um sorriso banguela de esperança nos lábios.
Ester ainda era nova e vez por outra pulava a cerca e deixava o pobre Juvenal com a cabeça enfeitada e alguns de seus amigos eram sabedores das traições da infeliz. Alguns até o enfeitavam a cabeça ao lado da dita cuja enquanto ele carregava toras de madeira para colocar nos caminhões.
Um amigo da madeireira soubera que ele andava angustiado por não ter conseguido o dinheiro e resolvera contar os seus trocados e mais do que depressa lhe emprestara com satisfação dizendo que receberia quando ele fosse buscar a bolada na Caixa Econômica.
Saindo do trabalho, lá fora Juvenal apressado fazer a sua aposta com medo de não encontrar mais a lotérica aberta. Pertinho dali havia uma e estava quase para fechar.
Seu sonho era dar o jogo de quarto para Ester, sua mulher, a quem ele amava com loucura e acreditava ser amado e também comprar uma geladeira nova, um fogão e um jogo de sofá bem do jeito que ela havia pedido. No momento em que ele estava pensando no que faria com o dinheiro, a infiel estava mandando o amante ir logo embora, pois seu marido logo chegaria.
Juvenal, na pressa de chegar à tempo de encontrar a loteria aberta, fora atravessar fora do sinal sem olhar, veio um ônibus, exatamente aquele que precisaria pegar para voltar para casa, e o atingiu em cheio, deixando pedaços do homem sonhador no asfalto quente. Era véspera do feriado de fim de ano e os funcionários foram dispensados em meio ao expediente. Era por volta do meio-dia. Seu sonho se tornara uma tragédia!
Assim se foi Juvenal, levando consigo os sonhos mais lindos e miúdos de um homem simples, o amor pelos dois filhos, um par de chifres e toda uma vida pela frente.
Moral da História: Seu sonho de uma vida melhor vai ter que esperar para outra vida.
LirÓ CarneirO