VELHA MÁQUINA DE SAUDADES

Na velha estação de trem, os corações humanos batiam tão acelerados e fortes que uns podiam ouvir os corações dos outros. Eram pais, tios, irmãos, netos, amigos, avós... Todos naquela espera angustiante do velho trem aparecer lá no começo da linha e reencontrarem seus filhos, netos, sobrinhos, amigos, irmãos, avós.

- Estou esperando meu filho - disse um homem, ansioso e sorridente, para uma mãe que estava ao seu lado - E você?

- Estou esperando minha sobrinha - respondeu a mulher, sem tirar a vista dos trilhos -, não a vejo a três anos.

O homem voltou a esbojar um sorriso e virou o rosto para o outro lado, onde estava um senhor, também esperando alguém. E olhou para o velho e disse a sorrir:

- Estou esperando meu filho. Nossa, sinto tanta saudade dele!

- Também sinto saudade de meu neto - contou o velho -, hoje ele está voltando de uma guerra. É soldado.

O homem sorriu e caminhou para o outro lado, onde havia mais um grupo de pessoas, que também aguardavam um reencontro.

- Quando eu rever meu filho, vou dar um abraço muito forte nele! - disse para aquelas pessoas, enquanto alguns tão somente consentiram.

- Minha filha está vindo nesse trem - falou uma mulher, emocionada - e também meu netinho que acabou de nascer. Estou ansiosa para vê-lo pela primeira vez.

De repente, um barulho, sinais de nuvens de fumaça, lá na frente surge o trem e a batida dos corações ficam mais fortes a cada soar do apito. E passam os vagões na frente de cada um que espera e o trem para, as portas se abrem e muitas pessoas descem. É uma confusão, muitos corações misturados, cabeças girando de um lado a outro e os pescoços esticados enquanto os pés ficam só com as pontinhas no chão. Então desce a sobrinha e a mulher a abraça com um vasto sorriso e trocam muitas palavras enquanto arrastam as malas até longe da estação. Como ela mudou! Como está mais bonita que da última vez em que se viram! Mas o homem que espera seu filho continua esperando-o com muita ansiedade e sempre sorridente. Desce o neto, o avô logo chora ao ver o rapaz que esteve sempre em suas orações e está de volta; se abraçam e as lágrimas do velho terminam desaguadas na farda do soldado, enquanto repete que Deus o livrou em toda a guerra! E vão saindo em felicidade. Ora o homem ainda espera o filho, empolgado, ansioso, todavia sem deixar de sorrir. Desce logo mais a filha com o bebê no colo, a mãe corre para abraçá-los, não sabe qual olhar primeiro! Fita o rostinho lindo da criança e diz como é linda e até se parece um pouco com o pai! É, em algo se parece. E o homem continua esperando ansiosamente seu filho.

Então todos descem e as portas dos vagões se fecham... Todas. E quando muitos já estão a caminho de suas casas, quando já mataram a saudade de alguém que a tanto tempo esteve distante, aquele homem continuou ali, de frente ao velho trem imóvel; ele esperava seu filho. Mas ele sorriu, quando desceu o maquinista, um pouco cansado, um pouco ensurdecido... E foi abraçá-lo, da maneira que disse que faria, foi abraçá-lo, forte, muito forte! E disse-lhe enquanto apoiava o braço em seu ombro:

- Pensou que eu ia esquecer seu abraço de hoje?

E respondeu felizmente o filho:

- Em momento algum o pensei.

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 01/09/2016
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