Cidade do interior, verão, 36°C. Stênio acorda, puxa o relógio de passeio de sua esposa e verifica são seis horas ainda, durmo mais um pouco, às sete me levanto. Stênio, pela sua ansiedade, acorda novamente sem despertador são sete! Arruma-se e vai pelas ruas da cidadezinha até a universidade, onde participará de um concurso para professor efetivo.
Que sol forte, pensa, são oito e poucas, não deveria ainda estar assim. Preciso ver as horas... Nenhum comércio está aberto, não passa por mim nenhuma pessoa com relógio...Chega à universidade, mas não há ninguém na portaria para informá-lo das horas e do possível local onde ele encontraria as pessoas.
Onde terá ido o pessoal? A sala é essa, conforme o edital... Stênio anda por todo o prédio, sente-se estranho, quer ir embora, sente-se como que dentro de um conto fantástico, onde tudo pode acontecer e esse tudo só pode ser o do pior possível. A saída? Me perdi, agora se deu a confusão... Acho que vim daquele corredor... Stênio dobra o corredor a sua direita, quer achar a saída e ir embora. Há algo que lhe diz Se manda, rapaz! Enquanto hesita em apertar o botão do elevador, uma porta a suas costas se abre.
-Ohôhô, grande Stênio, você está atrasado.... Vamos ver o que podemos fazer, vamos à sala da prova, os pontos para as provas dissertativa e expositiva já foram sorteados. Falou um dos professores-avaliadores que, por sinal, conhecia Stênio de longas datas.
Meu Deus, e agora? Não posso mais fugir! E a banca? São todos conhecidos meus! Stênio não sentia mais nem a própria alma. Só podia pensar em que estava fazendo ali e a necessidade de fugir. Na verdade, Stênio já não sabia mais porque queria fugir, apenas queria.
-O nosso amigo chegou atrasado, mas como ainda não divulgamos os pontos, se ninguém da turma se opuser, ele poderá participar.
Vários não, não, por mim, ele pode participar foram murmurados e Stênio não pôde recusar a participação.
Todos estão sentados em seus lugares à espera da divulgação dos pontos. Os participantes têm direito à consulta as suas anotações referente ao assunto pelos primeiros trinta minutos. Por um momento, Stênio achou-se aliviado, mas suas mãos suavam frio como nunca antes, e o seu coração estava acelerado.
Meu Deus, dos dez prováveis pontos dessa prova, estudei nove. Os pontos foram finalmente divulgados: Análise do xxxxx; prova expositiva: Análise do xxxxx.
Stênio perde a consciência por alguns segundos, pensa em desmaiar, olha para o quadro várias vezes, tenta pensar, sua mente se confunde. Stênio pega os papéis que possui, tenta fingir lê-los, não sabe o que fazer. Meu Deus, por que age assim comigo? A probabilidade de cair o mesmo tema nos dois sorteios é ínfima, o único que não pude estudar!
Stênio sente uma força sobre a sua cabeça e um filme vem a sua mente: a falta do livro que emprestara há um ano e meio ao amigo de sua esposa que, por ventura ou castigo, era um dos participantes daquele concurso; o quebrar do carro no caminho da viagem, o decorrente atraso da viagem em doze horas; a dificuldade em se instalar; o descarregar da bateria do celular (essa durava 15 dias, logo ontem descarregou); o relógio que sua esposa usava ser o de passeio, logo estava atrasado em uma hora (o horário de verão já havia começado há três dias); o decorrente atraso de uma hora na chegada à universidade; a sensação de terror vivida até ali... Deus o avisara de várias formas que não adiantaria de nada insistir naquilo. Realmente, a minha vida está predestina ao capino do sítio improdutivo que herdei e a tolerância com os porres da minha mulher!
O aspirante a professor guardou suas coisas, levantou-se e dirigiu-se à mesa.
-Aqui está!
-Como assim, você vai desistir?
-Vou, porque pensando bem... Stênio soltou um sorriso amarelo e continuou tenho uma bolsa de pós-doc na Argentina já aprovada, e eu queria fazer essa prova por experiência mesmo, mas acho melhor eu ir andando.
Stênio saiu só aos ossos. Não conseguia pensar. Não conseguia enxergar ou ouvir. Saiu da universidade e chegou ao hotel sem saber como, pareceu mágica. Pegou suas coisas, deixou sua esposa dormindo embriagada no hotel, pagou a conta e se mandou para nunca mais voltar à vida que levara até ali.
Disse um amigo meu que a esposa de Stênio se suicidou ao ver que o marido fugira, e que o próprio se tornou hippie e vive hoje de artesanato e erva na Bahia em alguma praia e, de vez em quando, vai aos Xangôs em busca de salvação.
Que sol forte, pensa, são oito e poucas, não deveria ainda estar assim. Preciso ver as horas... Nenhum comércio está aberto, não passa por mim nenhuma pessoa com relógio...Chega à universidade, mas não há ninguém na portaria para informá-lo das horas e do possível local onde ele encontraria as pessoas.
Onde terá ido o pessoal? A sala é essa, conforme o edital... Stênio anda por todo o prédio, sente-se estranho, quer ir embora, sente-se como que dentro de um conto fantástico, onde tudo pode acontecer e esse tudo só pode ser o do pior possível. A saída? Me perdi, agora se deu a confusão... Acho que vim daquele corredor... Stênio dobra o corredor a sua direita, quer achar a saída e ir embora. Há algo que lhe diz Se manda, rapaz! Enquanto hesita em apertar o botão do elevador, uma porta a suas costas se abre.
-Ohôhô, grande Stênio, você está atrasado.... Vamos ver o que podemos fazer, vamos à sala da prova, os pontos para as provas dissertativa e expositiva já foram sorteados. Falou um dos professores-avaliadores que, por sinal, conhecia Stênio de longas datas.
Meu Deus, e agora? Não posso mais fugir! E a banca? São todos conhecidos meus! Stênio não sentia mais nem a própria alma. Só podia pensar em que estava fazendo ali e a necessidade de fugir. Na verdade, Stênio já não sabia mais porque queria fugir, apenas queria.
-O nosso amigo chegou atrasado, mas como ainda não divulgamos os pontos, se ninguém da turma se opuser, ele poderá participar.
Vários não, não, por mim, ele pode participar foram murmurados e Stênio não pôde recusar a participação.
Todos estão sentados em seus lugares à espera da divulgação dos pontos. Os participantes têm direito à consulta as suas anotações referente ao assunto pelos primeiros trinta minutos. Por um momento, Stênio achou-se aliviado, mas suas mãos suavam frio como nunca antes, e o seu coração estava acelerado.
Meu Deus, dos dez prováveis pontos dessa prova, estudei nove. Os pontos foram finalmente divulgados: Análise do xxxxx; prova expositiva: Análise do xxxxx.
Stênio perde a consciência por alguns segundos, pensa em desmaiar, olha para o quadro várias vezes, tenta pensar, sua mente se confunde. Stênio pega os papéis que possui, tenta fingir lê-los, não sabe o que fazer. Meu Deus, por que age assim comigo? A probabilidade de cair o mesmo tema nos dois sorteios é ínfima, o único que não pude estudar!
Stênio sente uma força sobre a sua cabeça e um filme vem a sua mente: a falta do livro que emprestara há um ano e meio ao amigo de sua esposa que, por ventura ou castigo, era um dos participantes daquele concurso; o quebrar do carro no caminho da viagem, o decorrente atraso da viagem em doze horas; a dificuldade em se instalar; o descarregar da bateria do celular (essa durava 15 dias, logo ontem descarregou); o relógio que sua esposa usava ser o de passeio, logo estava atrasado em uma hora (o horário de verão já havia começado há três dias); o decorrente atraso de uma hora na chegada à universidade; a sensação de terror vivida até ali... Deus o avisara de várias formas que não adiantaria de nada insistir naquilo. Realmente, a minha vida está predestina ao capino do sítio improdutivo que herdei e a tolerância com os porres da minha mulher!
O aspirante a professor guardou suas coisas, levantou-se e dirigiu-se à mesa.
-Aqui está!
-Como assim, você vai desistir?
-Vou, porque pensando bem... Stênio soltou um sorriso amarelo e continuou tenho uma bolsa de pós-doc na Argentina já aprovada, e eu queria fazer essa prova por experiência mesmo, mas acho melhor eu ir andando.
Stênio saiu só aos ossos. Não conseguia pensar. Não conseguia enxergar ou ouvir. Saiu da universidade e chegou ao hotel sem saber como, pareceu mágica. Pegou suas coisas, deixou sua esposa dormindo embriagada no hotel, pagou a conta e se mandou para nunca mais voltar à vida que levara até ali.
Disse um amigo meu que a esposa de Stênio se suicidou ao ver que o marido fugira, e que o próprio se tornou hippie e vive hoje de artesanato e erva na Bahia em alguma praia e, de vez em quando, vai aos Xangôs em busca de salvação.