Noites de criminoso
Foram muitas noites de roda gigante. Ia e voltava ao mesmo ponto, andava em círculos em busca de algo novo. Queria sair da rotina, da mesmice, dos mesmo erros e quando achava que tudo caminhava bem e que os ares sopravam a empurrando pelo caminho certo, percebia que mais uma vez era apenas a roda gigante subindo, chegando ao seu ápice que logo tudo iria ter como rumo o chão, suas bases cairiam e tudo começaria de novo.
Estava cansada de ser atropelada pela vida e conduzida pelo acaso, de permanecer presa àquele modo de seguir os dias, amarrada. Depois de mais voltas, num desses ciclos da vida, abriu a gaiola quando quase chegava no topo. Sim, quando tudo ia bem mas já era visível que tudo mais uma vez igual, lá do alto, enxergando de longe o chão, sem muita noção onde e como cairia, jogou-se. De braços abertos, de peito liberto, de mente vazia. Foi com o intuito oposto de dominar-se, que o meio justificou o fim.
E ela caiu, com força, em uma realidade diferente. Chocou-se com um chão que por muitas vezes passara perto, mas nunca tocou. Um chão que ela considerava a ausência de base, um chão que temia que a tornasse serva da terra. Mas foi a mudança, foi a liberdade de estar presa ao chão, segura e envolta de certezas, que a fez perceber que a gaiola a que se sujeitara para alcançar o céu a tornava muito mais prisioneira.
Nenhum pássaro é livre se envolto por barras de ferro.