Um dia de agosto
Oh! Quais dias belos de agosto, aquela chuva fria que descia pelos meus ombros, o trem que passava tão devagar e as nuvens que se moviam naquele céu parado e sombrio, sei agora que há em cada parte um punhado de alegria, todavia, meus olhos não a alcançam, estão perto de mim e distante dela.
Eram 12h45 de um domingo, papéis jogados na cesta do lixo, meias em cima da cama e embaixo do travesseiro. Um copo de água na escrivaninha, não há ninguém em casa, minha cabeça pesa e a luz do meu quarto incide sob meus neurônios, desligo-a, entro no chuveiro, visto minha roupa, dirijo-me à cozinha a fim de comer um macarrão instantâneo ou simplesmente beber mais um copo de uísque. Não há ninguém aqui dentro para escutar os meus sonhos ou pesadelos, quero ouvir minhas mensagens da caixa postal, ligo o aparelho:
- Solicitamos a sua presença na próxima quarta no Edifício Rosengr às 8h00.
- Liga para mim, por que sumiu?
- Você me deve , estou precisando do dinheiro.
- Seu arquivo não chegou, reenvie para mim.
- Vamos beber hoje à noite?
- Nossos filhos sentem a sua falta. Eles te amam. Eu não mais...
São tantas mensagens, e meu domingo está repleto delas, mensagens do meu escritório, da minha melhor amiga, do meu consultor financeiro, do meu advogado, da meu colega de trabalho e da minha ex-mulher, mas nenhuma é de esperança.
Anne tem 48 anos, é psicóloga, casou-se comigo aos 22, mas separou-se de mim depois do nosso 2° filho, há 4 anos . Ela não conseguiu suportar a minha companhia, a companhia que ela dizia preferir a das amigas nos nossos primeiros encontros, a companhia que ela jurou amar eternamente na nossa primeira noite de amor, a companhia que foi se tornando escassa e ausente até um certo dia ela procurar por outra e deixar-me só nesse lugar frio, pois a sua companhia já não lhe bastava e era preciso deixar a minha presença para tornar-se completa.