CASUALIDADE/DIÁLOGO

- Ah, desculpe-me, eu não tinha notado que este é o caixa prioritário, o senhor pode passar, não tenho pressa.

- Eu muito menos. Já trabalhei tanto sobpressão que hoje vejo o tempo passar. Fique a vontade, não há mais ninguém na fila.

- Que pele bonita o senhor tem! O que o senhor passa no rosto?

- Nada?

- Nem bloqueador solar.

-Passo bloqueador apenas no nariz. Puxei de minha mãe que aos 90 anos ninguém acreditava que tinha essa idade. Uma recepcionista de um Pronto Socorro quando viu os documentos dela, beliscava-a e passava a mão no rosto de minha mãe e levava para o seu e dizia: “quero envelhecer assim como a senhora”, depois de minha mãe a ter repreendido e ela nunca usou nada no rosto e ainda lavava com sabão comum. Para tirar cravos e espinhas, passávamos suco de limão e depois que a coceira passava, passávamos um anel ou aliança e os cravos já amolecidos se soltavam.

- Não acredito!

- Minha mãe é falecida não tenho como provar, infelizmente. Mas cá estou e quantos anos acha que tenho. Muita gente não acredita. Vá... dá um chutinho.

- Sessenta e cinco.

- Mais dez. Tenho setenta e quatro e estou entrando nos setenta e cinco.

- Que maravilha!

- Tenho já alguns cartões amarelos, não sei se receber mais um, voltarei ao jogo (rsrsrsrs). Você gosta de ler?

- Adoro!

-Se você gravar esta é a minha página: www.recantodasletras.com.br/autores/santobronzato. Lá tenho crônicas e algumas poucas poesias.

- Sobre o que o senhor escreve?

- Crônicas do cotidiano. Este nosso diálogo pode ser uma crônica.

- O senhor vai escrever? Qual a poesia que o senhor gosta mais?

- Posso escrever, mas não hoje que tenho algo a fazer à tarde e a poesia, a mais lida, é “Amar no Outono”. Você faz o que?

- Sou psicóloga.

- Então esta poesia vai a calhar. Levei cinco anos para escrevê-la, pois não achava o princípio, o primeiro verso. Ela estava arquitetada e num entardecer em plena estação de outono lá na chácara onde minha mãe morava, onde eu estava também morando para um eventual socorro, ao ver as folhas secas caírem após uma lufada saiu o primeiro verso e daí saíram os outros que fui burilando para chegar ao que está publicado e ainda faltam alguns que aguardo para completar. Dê uma chegadinha lá no site, há também crônicas de humor.

- O senhor mora onde?

- Moro aqui em frente.

- Se o senhor precisasse, eu lhe dava uma carona para a gente continuar nossa conversa.

- Que pena, pela primeira vez eu fiquei com raiva. Como eu gostaria, você é muito comunicativa.

- Obrigado! Mas, eu preciso ir. O senhor me permite que lhe dê um beijo no rosto.

- Claro e serei recíproco!

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 13/08/2016
Código do texto: T5727451
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