O HOMEM MISTERIOSO
O barulho dos passos incomodavam os tímpanos de Lauro. À medida que se aproximavam, o volume do som também aumentava sensivelmente. O corredor de onde vinha o barulho era estreito e escuro. O escritório de Lauro ficava no subsolo de uma loja de brinquedos. Um prédio antigo com muitos problemas de infiltração em sua estrutura. O acesso até a sala de Lauro vivia úmido e escorregadio. As goteiras oriundas da parte de cima do prédio davam a impressão de que vivia-se um inverno rigoroso. Mas o problema era o encanamento antigo que apresentava furos e desgaste nas extremidades das conexões. Por conta disto o aluguel das salas do subsolo era mais barato. Os inquilinos atendiam a uma clientela de duvidosa honestidade. Ao longo do corredor, enfileiravam oito salas dos mais diversos profissionais. Ali havia ourives, protéticos, chaveiros, e também advogados fracassados. Lauro fazia parte do escritório de advocacia Lins e Passos. Mas após a perda de três grandes processos, o sócio Eriberto Lins rompeu a parceria. Lauro Passos passou por momentos difíceis. Os melhores clientes foram embora. A falta de receita obrigou ao escritório demitir os seus dez funcionários. O que restou foi apenas a secretária Rosália, e claro, o próprio Lauro. Diante desta realidade, o advogado passou a defender as causas de soltura de traficantes, ladrões de banco e matadores de aluguel. Mas isto não importava para o advogado . O dinheiro desta clientela valia da mesma forma do que de um cidadão de bem. Os passos pararam à porta do ourives. Lauro escutou um homem perguntando pelo advogado. O ourives Matias apontou para a sala em frente. O homem misterioso bateu com o nó dos dedos na porta do escritório. A secretária levantou-se da cadeira, mas Lauro impediu a sua ação. Ele pensou: - Será que é o cobrador do aluguel, ou o funcionário da empresa de energia, ou será o matador que não consegui defender a sua causa?. Há meses o advogado estava com as contas atrasadas. De repente, as batidas tornaram-se mais fortes, e o homem tentou forçar a fechadura. Lauro suava em bicas. A expressão do seu rosto denotava uma aflição muito grande. Após alguns minutos, o barulho cessou, mas a imagem do tal homem ainda aparecia na porta de vidro. A secretária de Lauro esboçou um movimento, mas o advogado recriminou a moça. Lá fora, ouviu-se conversas de outras pessoas com o homem misterioso. O ourives gritou: - Seu Lauro, tem um homem aqui fora esperando o senhor. Ele tem uma mala preta e disse que tem um presente para a vossa "incelência". Lauro pensou logo que na mala poderia ter uma arma, e aquele poderia ser o seu último dia de vida. O seu coração batia fortemente. A secretâria abriu finalmente a porta. No entanto para a surpresa do advogado o tal homem era o seu tio que chegara do interior. Ele trazia papéis que identificavam o Lauro como único herdeiro de uma fortuna de seu irmão. O advogado tranquilizou-se, mas foi vítima de seu coração frágil. Ele tombou o seu corpo no sofá velho e eterno companheiro das noites mal dormidas. A secretária ainda tentou reanimar o pobre advogado, mas não obteve sucesso. Segue-se a vida, ou a morte?.