Como Qualquer Uma. Maria

Enquanto Maria se arruma, entre e não se acanhe. Vou lhe contando sobre a vida, a vida de Maria. Fique tranquilo, ela não pode nos ver. Somos como fantasmas! Então, sente-se e fique confortável para que possamos conversar. Não lhe enganarei, esta estória beira o comum e seria inútil e desnecessário de contar se não fosse este personagem que Maria tenta ser, mas logo entenderemos, primeiro precisamos pontuar e destacar alguns de seus aspectos mais profundos e íntimos.

Maria é tão jovem e inexperiente, mas já é mãe de um menino, Cristiano.Toda vez que eu o vejo penso que Maria deveria “não tê-lo” ou já que foi assim, deveria deixá-lo em alguma dessas instituições para crianças. Parece ruim, mas você logo vai concordar comigo. A princípio eu acho que Maria não tem condições psicológicas e amadurecimento suficientes para cuidar de uma criança, e sendo assim, não conseguirá lhe fornecer condições necessárias para que cresça e se desenvolva. Infelizmente Maria pensa diferente, apesar das suas dificuldades, acha que todo filho é uma benção, uma benção que lhe foi enviada por algum propósito divino, por isso, acha que criar o menino é a sua “missão” de vida. Você não considera isso um pouco egoísta e irresponsável? Engraçado é que até hoje eu não percebi onde estar esta “benção”, pois este aqui não será o Messias, pelo contrário, eu vejo um menino comum que come, dorme e brinca como qualquer uma criança.

Conheço Maria a pouquíssimo tempo, mas uma de suas características que logo percebemos é sua arrogância. Ela não gosta muito de ouvir conselhos, não quer a opinião de ninguém para nada, pois sempre acha que do seu jeito é o melhor jeito de fazer. Por exemplo: Sem muito esforço vemos que esta casa está imunda. Vê quanto pó tem aqui encima?! Mas não adianta tentar ajudar, dar um conselho ou uma opinião para que Maria melhore nas tarefas domésticas, pois ela confunde personalidade com arrogância e acha que seu trabalho é digno de mérito e elogios, e nunca pode ser questionado. Você, meu querido, conhece pessoas assim? Que ostentam com muita soberba uma “qualidade” que na verdade não passa de um atributo comum e banal?! Eu acho Maria deveria saber que a humildade precede a honra e ainda que fizesse um bom trabalho, ainda sim seria apenas sua obrigação, como qualquer uma dona de casa faz todos os dias.

Caro amigo, se você reparou nos móveis e na atual situação dessa casa, já deve ter percebido que Maria é pobre, mas isso não lhe dá o direito de ser irresponsável. Eu olhei um dos armários agora há pouco e não achei nada, nada mesmo! Como é que pode?! O que o menino vai comer? Aparentemente ela só sabe comprar besteiras caras e supérfluas, e pior ainda, vive atrasando as contas e o aluguel. Ela pode até estar cantando no chuveiro, mas constantemente reclama dessa “pressão” que sofre todos os dias. Ela pensava o quê? Que a vida é um mar de rosas? Eu sei que você, meu amigo, pensa de forma sensata como eu, e sabe que há milhões de pessoas no mundo que trabalham duro todos os dias sem falhar com suas obrigações. No entanto Maria tem sido negligente e acha que essas coisas só acontecem com ela. Alguém precisa lhe mostrar que ela tem responsabilidades como qualquer uma mãe solteira tem.

Silêncio...! Maria está saindo do banho! Ela não pode nos ver, mas às vezes acho que ela pode me escutar! Não seria elegante ela nos ouvir agora! Pronto... podemos continuar.

Maria constantemente pensa em voltar para casa de seus pais, mas acho que seu orgulho lhe impede de fazer isso. Principalmente quando seu pai vivia lhe avisando: - Maria, Maria tome cuidado com esse João! Infelizmente ela nunca teve personalidade para assumir seus erros. Tão cedo não voltará para casa dos seus pais, continuará morando na cidade que lhe roubou a generosidade e lhe dissolveu o amor com a ilusão. Depois ela vai ficar reclamando de saudade, angustia e solidão. Você não tem raiva dessas pessoas que já sabem o que fazer para mudar suas vidas, mas preferem ficar em casa reclamando o tempo todo? Maria deveria estar numa situação melhor, mas já sabemos o que aconteceu: Soberba e orgulhosa agiu como qualquer uma que, às vezes, não escuta seu pai.

Você, meu amigo, me parece sensato e inteligente! Aposto que desde o inicio soube moldar o caráter e avaliar as posições e atitudes tomadas por esta pessoa que quer se fazer de “vitima” do destino. Eu penso que cada um é responsável pelo seu próprio destino, e o destino nada mais é do que o resultado das nossas escolhas, entretanto, não é possível fazermos boas escolhas envolvidos por uma “falsa esperança” ou impulsionados por uma fé irracional que as coisas simplesmente vão dar certo. Ninguém melhor para exemplificar isso do que Maria: Tinha fé e esperança que sua vida seria feliz e brilhante. Tinha muitos planos para seu futuro, um deles, era hoje está passeando com sua família ou pelo menos ficar em casa descansando em um feriado, porém, está se preparando para algo diferente, algo que é consequência de suas escolhas e isso não tem nada a ver com “predestinação”. Logo vai sair e deixar o menino sozinho. Eu até que poderia cuidar, mas infelizmente tenho outras casas para visitar. Fico muito triste, pois quantas vezes já vimos isso acontecer? A menina engravida e o pai some! Maria e suas escolhas ingênuas! Achou que com ela seria diferente, mal sabia que isso pode acontecer com qualquer uma!

Agora venha comigo no quarto, vamos vê o que Maria tanto faz! Mas antes de entrarmos tenho que lhe preparar. Maria aprendeu um jeito de... se virar! É uma espécie de teatro, ela usa batom, brinco, minissaia, cocaína... e o que mais? Hum...! Coragem! Pronto! Entre e veja. Maria em um passe de mágica troca seu triste olhar por um atrevido e sedutor, seu sorriso gaiato esconde sua tristeza e solidão. Agora eu acredito que só mesmo uma mulher pode dar à luz! Logo nasceu esta personagem que Maria batizou de Madalena, a devassa! E que melhor atriz do que uma meretriz? Não se assuste esta peça logo vai acabar! Devo admitir que desde o início eu já sabia, mas as pessoas me rotulam como o pai da mentira, por isso eu articulei esta trama para que você mesmo pudesse testemunhar. Agora tire suas próprias conclusões, mas não se esqueça de que Maria usa máscaras: Uma hora é santa, em outra, vitima, mas depois percebemos que tudo não passa de uma farsa, uma desculpa para sua desgraça.

Tenho que admiti que admiro Madalena, que é como uma muralha, forte e intransponível! Se Maria tivesse só um pouco desta postura, talvez tivesse mais sorte... Quer dizer! Talvez tivesse uma vida menos imoral e miserável! Madalena também tem conflitos, está há pouco tempo em um negócio, que basicamente resolve algumas “necessidades”, e como em qualquer outro mercado tem o preço como principal fator de atração. O problema é que neste negócio o preço nunca é fixo, flutua e muda como em um mercador de ações, por isso, Madalena precisa urgentemente aprender a negociar para se dar bem. Infelizmente não podemos mais acompanha-la, eu acho que, tanto eu quanto você, meu companheiro, não queremos nos envolver e ficar perto desse tipo “negócio”, mas podemos ficar distantes apenas julgando, somos bons nisso não é mesmo? Deixemos Maria... quer dizer, Madalena fazer seus negócios e daqui de longe olhemos com duro olhar, mas também atentos, pois talvez um dia também precisemos aprender a negociar:

- Vamos nos divertir lindo?

- Não sei você não faz o meu tipo! Quanto custa?

- Cem reais!

- Nossa tudo isso?!

- Não esquece que hoje é feriado, é tipo bandeira dois.

- Engraçadinha você né!? Mesmo assim por cem eu saio com um modelo ou com uma mulher fruta, sei lá!

- Como você é gatinho eu faço oitenta pra você tá bom?!

- Dá uma moral aí! Você não vale oitenta...

- A diversão é garantida e esta quase que de graça.

- Sei lá! Eu acho você meio sem graça, não faz meu tipo mesmo!

- Está vendo? Pode colocar a mão se quiser. Aqui o material é de primeira!

- Sacanagem! Eu gosto é de peitões!

- Setenta?!

- Por setenta eu consigo uma melhor do que você! Chega eu vou embora!

- Tá bom, espere, pela metade?!

- Agora sim estamos começando a conversar!

- Agora eu faço seu tipo né safado?

- É que por este preço eu como qualquer uma...

Cristiano Oliveira Santos
Enviado por Cristiano Oliveira Santos em 28/07/2016
Reeditado em 19/10/2019
Código do texto: T5712205
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