AS DORES DO MUNDO (MINI CONTO)
Sentada no banco da praça, lendo um livro, senti movimentos perto de mim.
Olhei para o lado, e os três estavam ali, quietos, parados só observando meu jeito.
Quando me dei conta estava na ponta do banco! Me senti incomodada e arrisquei olhar para o primeiro que estava ao meu lado.
Foi então que levei um susto! Pois ele me olhava dos pés à cabeça.
- O que foi? Perguntei.
Ele rapidamente respondeu:
- Você não tem medo de ficar aí lendo, sem tomar o cuidado, com os roubos?
- Estou atenta. Respondi.
- Logo mais vai escurecer, você não tem medo de andar sozinha à noite?
- Não. Daqui a pouco vão acender as luzes, e a praça ficará cheia novamente, pois o comércio fechara as portas, e as pessoas terão que ir para as suas casas.
- E a condução?
- O que tem a condução? Perguntei.
- Não tem medo de pegar condução, a essa hora? - Olhe a fila, está enorme! - Você não conseguirá entrar... Então eu o interrompi.
- Basta! Disse a ele.
Ele olhou-me confuso, não sabia ao certo o que dizer. Então arriscou algo assim:
- Eu sou o limite da vida! - Sem mim vocês estariam perdidos!
- Concordo em partes... Só que o excesso de você, causa arrepios! E o pior, vira doença! Respondi.
Então ele o "medo" levantou-se deu de ombros e saiu.
Percebi que as outras duas cochichavam baixinho de propósito, para tirar minha concentração na leitura. Fitei-as por alguns segundos, e voltei à leitura. Percebi que uma delas chegou mais perto.
- Olá! - Não tem recordações para reviver?
- O Facebook já fez isso para mim hoje! Respondi prontamente.
Ela olhou-me com desdém, e arriscou uma nova pergunta:
- Não sente saudades hoje?
- Não. - Só hoje! -Só por hoje prefiro minha companhia! Enfim respondi.
A saudade levantou-se, sem dizer uma palavra e saiu.
Com o canto dos olhos percebi que a outra só me observava.
Continuei minha leitura.
Ela chegou de mansinho, sem quase eu perceber.
- Então, hoje só por hoje, prefere a sua companhia? Perguntou com ar esnobe.
- Sim! Respondi.
- E aquelas noites mal dormidas, quando me procurava com lágrimas nos olhos, tendo -me por companhia, nada reclamava, só ouvia, teus múrmurios e lamentos... Agora despreza-me? - Por quê? Perguntou a solidão.
- Não te desprezo. Só queria só por hoje, não ouvi-los! - Tenho esse direito certo? Perguntei.
- Sim, claro que tem. - Mas diga-me, está sozinha? - Onde estão os seus?
- Não estou só.
A solidão começou a rir.
- Do que está rindo? Perguntei.
- Da tua ingenuidade! - Será que não percebes que és só, e sempre serás? Teus amigos, tua família, não pertencem à você! Nascestes só e irás só! Simples assim! Concluiu ela.
- Sim, sei disso. Mas enquanto estou junto deles, quero aproveitar cada momento! Como se fosse o último! Eles são o meu oxigênio! Sem eles não sei se conseguiria viver... Agora me dê licença por favor, quero voltar a minha leitura!
A solidão saiu sem dizer nada.
A estória do livro era bastante interessante, e eu estava ansiosa para saber o final. Então nem parei para pensar no que os três haviam falado. Desliguei completamente o pensamento. Confesso que a solidão até tentou, mas não conseguiu convencer-me.
Depois de alguns minutos olhei por cima do livro e vi uma moça sentada, num outro banco a mais ou menos uns cem metros de distância. Percebi que ela corria os olhos, como se estivesse lendo algo no seu tablet mas seus olhos estavam alarmados com o que viam. Foi quando percebi que o medo, sentou-se ao seu lado, e começou a puxar conversa com a ela. Não demorou muito para que as outras duas chegassem também. A moça parecia confusa, sem saber ao certo, a quem dar atenção.
Me senti muito triste com aquela cena! De repente ouvi um barulho, o ônibus acabara de chegar. Fechei o livro, peguei a bolsa e fui para a fila. Ainda arrisquei dar mais uma olhada para ver o estava acontecendo, com os quatro. foi quando percebi que a moça chorava, compulsivamente. Solidão só a fitava, saudade emprestou seu ombro para ela se encostar, e o medo não parava de falar, tentando convencê-la, de sei lá o quê...
Entrei na condução, e ainda por sorte consegui sentar, tirei o livro da bolsa, e comecei a ler novamente. Respirei fundo, nunca imaginei estar em tão boa companhia!
Fim