Homem literal
Dona Zefinha foi procurar o doutor França porque estava preocupada com o marido, que deu para sair de casa e voltar contando suas proezas linguísticas. Eis alguns casos, em poucas horas. Esperando o coletivo, uma vizinha, para puxar conversa, perguntou-lhe se ia pegar o ônibus. Seu Domingos respondeu-lhe que o veículo era muito pesado. Na seção de crediário de uma loja, a moça do cadastro lhe pediu o celular. Seu Domingos, imediatamente, entregou-lhe o aparelho. Comprando meias, perguntam-lhe se eram para esporte, mas ele respondeu que eram para calçar. Quando outra vizinha o cumprimentou pelas vinte primaveras da filha, seu Domingos fez as contas e disse que a moça não tinha cinco anos. Quase entrando em casa, um transeunte quis saber se ele tinha horas; seu Domingos apenas disse que tinha relógio... Uma chateação! – Dona Zefinha, seu marido sofre de sentido literal – disse o médico. – Isso quer dizer que ele está virando poeta, doutor? – Não, dona Zefinha. A doença é grave e está matando o poeta que tem dentro dele.