IMAGEM DE DANIEL GERHARTZ
Em uma simples casinha vivia Clotilde, uma menina faceira e ligeira, com sua mãe e seus dois irmãos menores.
Sua mãe era viúva e trabalhava muito para sustentar  e educar seus três filhos, Clotilde, André e Maria.
Clotilde era a filha mais velha, dedicada aos estudos, caprichosa com seus pertences, porém com um temperamento forte que preocupava sua mãe.
Era uma filha obediente, carinhosa, mas questionava  o que não conseguia compreender.
Cora, sua mãe, conversava muito  com Clotilde e fazia um enorme esforço para entender o temperamento diferente da sua filha que recusava aceitar certos padrões impostos pelas pessoas as quais era obrigada a conviver.
Clotilde se relacionava bem com os animais, com as plantas, com a natureza em geral, mas tinha uma enorme dificuldade de entender o comportamento das pessoas.
Na escola, suas amigas bajulavam as professoras, levavam maçãs, florzinhas, bombons e todo tipo de mimo, mesmo que não gostassem tanto assim das mestras, agradavam para estarem sempre em evidência. Clotilde não suportava assistir tanta falsidade, nunca levou um botão de rosas para as mestras, mas ficava com muita raiva das amigas quando estas fofocavam sobre as professoras. Era sempre posta de lado pelas professoras nos elogios e premiações e suas amigas estavam sempre em destaque.
Em uma bela manhã de domingo Clotilde brincava no quintal da sua casa com seus irmãos, subindo em árvores, quando uma velha tia chegou fazendo-lhes uma inesperada visita.
A mulher olhou para Clotilde, franziu a testa e falou:
- Clotilde isso não é brincadeira para meninas, que mau exemplo você está dando para sua irmã!  Meninas brincam de bonecas!
E Clotilde mais do que depressa retrucou:
- E adultos com tanta coisa mais importante para fazer não devem perder  tempo censurando brincadeiras de crianças, que mau exemplo a senhora está nos dando!
- Que garota desaforada, se eu fosse sua mãe dava-lhe umas palmadas. Dizendo isso a tia saiu indignada.
Clotilde por sua vez, continuou a brincadeira sem dar importância para o que acabara de acontecer.
 Já estava tão habituada com estas interferências, que apesar de ter sempre uma resposta para cada situação, nunca se deixava abalar e não se estendia muito nas desagradáveis situações.
Certa vez envolvida em um projeto na escola que exigia  que cada aluno apresentasse em forma de exposição um trabalho individualmente, criou uma maquete demonstrando o ciclo da água na natureza, excelente ficou o trabalho, todavia dependia da avaliação dos próprios alunos que dariam suas notas de forma secreta. Os mais espertos antes de avaliar os trabalhos dos colegas por escrito, passavam nos  stands de apresentação e faziam verdadeiros discursos elogiando a apresentação e desta forma,  consequentemente os que tinham sido elogiados  exerciam o mesmo comportamento como retribuição.
Clotilde por sua vez, sem muito alarde, avaliou de forma justa em silêncio o trabalho de seus colegas, atribuindo a todos notas elevadas, pois tendo como referência seu esforço para apresentar sua maquete, considerou que todos mereciam o devido reconhecimento. Porém seu trabalho, para a sua decepção, teve baixíssima avaliação, o que foi surpresa até para a direção da escola que estimava o trabalho de Clotilde como um dos melhores.
Neste dia a menina voltou para casa visivelmente abatida e inconformada. Cora, sua mãe, não teve palavras para confortar a dor da menina que também pesava em seu coração de mãe.
Clotilde se refugiou debaixo de uma das árvores do quintal, e ali permaneceu à tarde quase toda em prantos, sentindo-se injustiçada, magoada com a avaliação dos colegas, que não julgaram o seu trabalho e sim o seu comportamento silencioso diante do trabalho deles.
Encolhida como um bichinho acuado, com a cabeça entre os joelhos não continha suas lágrimas que brotavam como cascatas dos seus olhos refletindo o verde da vegetação a sua volta.
Neste momento ouviu uma voz grave bem próxima:
- Por que choras tanto  menina Clotilde, tu que és tão forte, tão segura?
- Choro por tanta injustiça, por não ter sido o meu trabalho reconhecido de forma verdadeira. Trabalhei tão duro, me esforcei tanto, todos os mestres elogiaram a minha maquete. Desabafou a menina.
- Este é o mundo das injustiças, da troca de interesses, da hipocrisia, da arrogância e tu sabes como ninguém como viver aqui.
-Mas eu não quero viver neste mundo, eu quero ir embora daqui.
-Não vieste para este mundo por acaso,  és realmente um peixe fora d’água, mas o que seria deste lugar sem a existência de seres com tua nobreza?
- O que muitos erroneamente julgam como rebeldia, dá-se o nome de justiça. És muito nova, mas  com o passar do tempo serás reconhecidas por tuas obras e benfeitorias.  O que deves ter em mente sempre é este senso de justiça, jamais  deixe corromper-se por interesses. Muitas serão as tentações e decepções, mas o importante é manter-se firme, desejando sempre o melhor a todos, agindo com temperança, assim como agiste hoje  ao julgar o trabalho dos teus colegas.
Clotilde estava  tão envolvida na sua tristeza que nem se deu conta de que nunca tinha visto aquele homem. Quando a calma retomou a sua mente, perguntou assustada:
- Afinal de contas, quem é você, como entrou aqui, e como sabe a forma que julguei o trabalho dos meus colegas se era uma avaliação secreta?
- Estou sempre próximo a ti, só que ainda não desenvolveste a capacidade de me enxergar. Hoje sentindo teu desespero, me fiz presente à tua via visão, mas agora que estás mais calma posso voltar para os meus afazeres. A propósito, sabes qual o significado do teu nome?
E ao dizer isso, magicamente o homem desapareceu.
Clotilde sentiu uma mão acariciando o seu rosto e  sobressaltada abriu os olhos avistando sua mãe que docemente lhe deu um beijo e a levou para dentro de casa.
 
HILDA STEIN
Enviado por HILDA STEIN em 24/07/2016
Reeditado em 24/07/2016
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