LAÇOS DE FAMÍLIA - Parte I

Muito das vezes, um(a) filho(a) poderá a vir sentir falta do convívio da sua família na época da infância, mesmo que desprovida do sustento, onde tinha dias que não se tinha o que comer... Àquele calor entre irmãos ou até mesmo, dividir o mesmo prato de comida, são laços que se pode carregar pelo resto de nossas vidas e que não há nada que possa substituir.

Década de 60, interior do Maranhão...

Naquele tempo era muito comum os casais contrair matrimônio e logo encher a casa de filhos e naquela família não era diferente. Nada menos que 13 descendentes se amontoavam pelas pequenas acomodações daquela singela habitação. Todos quase que com diferença de apenas um ano para o outro. O ganho era pouco, nem sempre tinha o bastante para alimentar todos à contento. Sete homens e seis mulheres se espalhavam durante o dia em volta da casa – já que esta era muito pequena e se amontoavam durante a noite para dormir. Assim era a família do seu Genário e dona Matilde.

Certo dia uma senhora mais abastada financeiramente disse assim:

Seu Genário, o senhor podia me dá uma das suas filhas... Tô precisando de uma menina para cuidar da minha filha pequena. Prometo cuidar dela como se fosse minha filha.

Seu Genário foi falar com a esposa Matilde. Apesar de não ser aquilo que queriam para as suas filhas, mas diante da dificuldade que enfrentavam, via naquela possibilidade uma maneira de aliviar as despesas dentro de casa, era uma boca a menos para alimentar e além do que, a senhora havia prometido tratar a menina como sua filha.

Diante desse pensamento resolveram dar a pequena Alice, de apenas 7 aninhos. Uma menina, meiga, carinhosa, delicada, de pele mais clara entre as filhas.

A pequena Alice não queria ir, mas naquela época, criança não tinha que querer, apenas seguir o que determinavam seus pais.

Dia seguinte, sua mãe arrumou sua trouxinha de roupa, nos pés apenas uma sandália de dedo de pneu. Seguiu com seu pai para a sua nova casa, sua nova morada.

Chegando lá, a dona da casa veio toda sorridente recebe-los. Aqui está a menina, dona Leonora. Por favor, eduque ela e dê algum corretivo se preciso for – Disse o pai, entregando a filha

A pequena Alice com os olhinhos tristonhos, cheios de água disse : ô paizinho, não me deixa aqui não... e começou a chorar...

Mas ele, de coração meio duro respondeu: logo você se acostuma e aqui terás mais conforto.

Mal sabia ele o que viria pela frente para sua pequena Alice.

Despediu logo e virou-lhe às costas em direção de volta, para ela não ver que ele estava quase chorando.

Sua nova ama, pegou-a pela mão e a conduziu para dentro daquela casa, que daquele instante em diante seria sua nova morada. Ela meio assustada e envergonhada, ia correndo os olhos em cada detalhe daquele ambiente, muito diferente da sua casinha.

Os primeiros dias a dona Leonora foi amável com ela, procurou deixa-la bem á vontade. Os dias foram se passando e logo vieram as pequenas mudanças. A amabilidade do início deu lugar ao de menina escrava. Logo ela passou a ajudar nos afazeres da casa.

A dona Eleonora, foi-se revelando, e a pequena Alice pode perceber o quão insensível e ruim era aquela mulher. Colocou-a pra dormir pelo lado de fora da casa, nos fundos da cozinha. O banho era frio, não tinha chuveiro quente. Ela tinha medo do escuro e lhe dava um desespero... Nas noites frias mal tinha um cobertor pequeno para se cobrir. Muitas noites ela não consegui pregar o olho, ora de medo, ora de frio. Amanhecia todos os dias, com esperança de que o seu pai ou a sua mãe pudesse vir vê-la e saber como estava. Mas não apareceram.

Os dias foram se passando... os meses... os anos... e ela acabou por ser transformada literalmente numa escrava, pois já havia se encorpado um pouco mais e já dava conta de todo o serviço da casa.

Começou a frequentar a escola, mas nem chegou a concluir o terceiro ano primário, foi obrigada a abandonar os estudos. Também não recebia salário, tudo que recebia era alimentação e algumas vestes, sem direito de escolha. Mas quando já entrava nos treze anos, vez por outra ganhava um dinheirinho, os quais ela ia guardando.

Pouquíssimas vezes ela visitava sua família e quando o vazio nunca reclamou de nada. Pode notar que nestas suas visitas, alguns dos seus irmãos(ãs) acabaram tendo o mesmo destino que ela, foi morar na casa de alguém.

Apesar de aparentemente frágil, era uma menina forte e decidida, não queria àquela vida pra ela. Já se encontrava na casa dos dezessete anos e não via a hora de completar os dezoito e assim ser dona do seu nariz, como diz.

Nas últimas visitas à sua família ela comentou com os pais que assim que completasse dezoito anos iria sair.

Enfim, chegou o dia do seu aniversário. Na hora do almoço, todos reunidos em volta da mesa, ela comunicou àquela família que não mais iria ficar. Foi àquele choque.

Pra onde você vai? – Perguntou sua patroa.

Para São Paulo – Respondeu.

Todos ficaram sem ação, foi um desconforto, perderam a vontade de comer. Ela voltou pra cozinha e foi terminar de lavar as coisas.

A dona Leonora, ainda tentou dissuadí-la da idéia, oferecendo até em fazer um salário pra ela. Mas a pequena Alice que já era mulher feita, estava decidida.

E quando será? – Perguntou.

Hoje é meu último dia aqui – Respondeu.

A dona Leonora, apesar da sua insensibilidade, se afeiçoou à menina. Na hora da despedida, em prantos, ela entregou-lhe um envelope e disse: aqui tem uns trocados para você, não é muito, mas dá pra você se ajeitar até conseguir um emprego.

Assim Alice deixou seu Maranhão e partiu em direção a São Paulo.

(Um conto baseado em fatos reais, preservados seus personagens reais)

Menino Sonhador
Enviado por Menino Sonhador em 20/07/2016
Reeditado em 01/08/2016
Código do texto: T5704048
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