Um cara revoltado

té na hora do refresco havia diferença, o picolé barato , de pouco sabor, contra as taças cheias de sorvetes cobertos de caldas saborosas. Na praia, aos domingos, quando calhava de poder ir passar o dia inteirinho, a minha turma levava a boia na marmita, contrastando com o cheiro dos churrascos , vindo do outro lado do calçadão , dos restaurantes.

No grupo lotar onde estudei, os livros e cadernos eram doados, alguns livros já vinham soltando as folhas.Na minha casa, na mesa tosca, os pratos e canecas eram embeiçados e encardidos.Ninha cama era um girau coberta com um lenços ralo. Posso contar nos dedos os meus dias bons, a maioria era ruim de doer.No tempo das festas era ainda pior a diferença, com olho comprido eu ficava espiando as lojas cheias , enfeitadas, em algumas os rádios tocavam músicas bem alto, que eu adorava ouvir.Entrava nas lojas que podia, e saia de rabo entre as pernas,com os olhos cheios de desejo.No dia de Natal, pela manhã,na sandália de borracha, quando muito, um saquinho de biscoitos.Nas Pascoa, quando dava sorte, minha mãe trazia um bom-bom, ganho da patroa.Eu comia, pensando nos ovos enfeitados com papel colorido e laços de fita.Foi assim, coberto de diferenças que eu cresci, me tornei adulto, mas nunca me esforcei muito para ter mudanças , eu reconheço que a inveja e a descrença me tolhiam.

Um dia arrumei a minha primeira namorada, e em um domingo , quando nos encontramos, a danada quis ir ao cinema, mas a minha grana só dava para um ingresso ,brigamos na porta do cinema mesmo.Ma volta para casa, cheio de raiva, passando em uma rua antes de subir o morro, vi um jovem, assim como eu, abrindo a porta para a namorada entrar no seu carro, eles riam e conversavam felizes, eu, inconformado , senti uma raiva danada...e assim levei o primeiro fora de uma mulher.Um fato que muito me marcou foi sobre um par de tênis.Passando por uma vitrine, eu vi o tal tênis, lindão mesmo, solado grosso, uns botões coloridos na sola, bem colorido.Eu não resisti e entrei na tal loja, eu queria, ao menos ver como ele ficaria nos meus pés.O vendedor , uma cara muito antipático, veio me atender, eu apontei para o objeto dos meus sonhos ,e dei o meu número,ele, com a cara mais sínica ,respondeu que não era possível, alem dele ser muito caro, os meus pés estavam sujos.Eu não pensei duas vezes, meti a mão na cara dele e chutei as caixas do meu lado,e assim feito,foi essa a causa das minha primeira visita a uma delegacia.

Tantas coisas marcaram a minha vida, sou bem jovem, mas, sinto o peso das decepções.Comecei praticando pequenos furtos messa minha carreira de contraventor, acho que eu mereço mais da vida, sou filho de Deus, embora acredite que ele não saber disso,e hoje, finalmente , vou poder me sentir vingado de tantas coisas, do tênis que não tive, da bola , dos ovos de pascoa,dos presentes de Natal,hoje eu tiro o pé da lama.Sei que vou fazer uma coisa terrível...eu planejei tudo muito bem, nos menores detalhes, e sei também que vão me condenar muito, mas tenho que cair fora , me mandar e esquecer.Estou proibido de sentir peso de consciência, já que eu sei muito bem o que quero...

- Assim perdido nos seus pensamentos, ele não reparou no carro que vinha a toda, e atravessou a rua, quase sem olhar.Foi tão inesperado e fatal, que ele nem percebeu.Assim ele foi salvo do terrível mal que ele ia praticar, do plano diabólico criado na sua cabeça sofrida.Sua alma livre foi subindo, atravessou as nuvens que passavam rápidas,e cada vez mais alto , chegaria um momento que ele poderia compreender que também era filho de Deus, e um pai de verdade, não abandona o seu filho ...estaria salvo!x

lucia verdussen
Enviado por lucia verdussen em 18/07/2016
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