Apenas um Olhar

Apenas um olhar

Em minhas andanças e olhares aguçados vi um fato que muito chamou a atenção. Nada que alguém despercebido pudesse notar, mas ultimamente, observo ao redor mais que antes, flutuo nas nuvens, me perco em pensamentos e me demoro no quintal, ganho tempo e liberdade a observar com os pássaros, detenho-me a olhar formigas, brinco com as flores e com o vento me balanço ao lado delas. Passo horas a parafrasear borboletas dentro de mim.

Ultimamente ando pela rua a olhar as casas e suas cores, me aninho nas árvores que dão a elas a doce sombra e faço canção com andorinhas e pardais. Posso quase sentir o canto deles em meus lábios.

Nesse olhar atento ora breve, ora demorado, vi uma senhora já idosa com olhar a esmo, o rosto enrugado de olhos fundos e tristes, a guardar um pedaço de seu tempo sobre uma pequena árvore na calçada. Talvez se eu tivesse tido o tempo de olhar bem dentro dos olhos que vi tristes, pudesse enxergar histórias, sonhos, lutas e vitórias e a grande experiência que viveu. Talvez ali num momento depositado a cuidar da planta de seu jardim existisse cumplicidade, prazer, paz enfim...

Estava a senhorinha envolta da caixa de madeira que protegia a pequena árvore de animais ou de quem a pudesse machucar. Notei ali mesmo na hora , opostos atraídos, talvez iguais, se bem apurado o pensamento e a visão: Uma muda de árvore cheia de vigor e vontade de viver, crescer , frutificar E uma mulher que tanto viveu, deu frutos.O tempo ali a desfiar nas mãos enrugadas. As duas com diferença de tempo, mas o mesmo desejo de vida.

A mão da senhora adentrava a pequena muda a fazer um carinho nas folhas, certamente apenas espantasse uma formiga, ou colhesse uma joaninha, ou quem sabe era a pequena árvore que acarinhava a mão suave e calejada da senhora que lhe plantou. Mão calejada da lida, da vida dura e tão cheias de coisas a contar.

Foi apenas um segundo, enquanto eu de moto passava por ali, mas guardei na memória e no coração o olhar, a árvore a se enamorar da mão que lhe alimentava com afeto, os olhos dela bem abertos a dispor de um tempo ainda que em sua velhice para cuidar de um ser cheio de vida que tanto bem nos faz. Dois seres afinal diferentes na envoltura e no mesmo sentido iguais.Uma senhora coma vida ganha, uma árvore que cresce a ser feliz, mãos e folhas que se abrem ao mundo para trazer paz e vida.

Os olhos de amor eu vi e me perdi, não sei se na mão de carinho ou nas folhas cheias de hálito de bondade.Me perdi numa visão que ando querendo me achar...

Olhar a natureza e as pessoas com mais tempo para delas o melhor me inteirar.

Uma muda de árvore nativa, uma senhora idosa e um olhar. Uma terna troca de carinho e a vida se fez mais bonita!

Apenas um olhar e um segundo de tempo se torna eterno na memória e na alma. São pequenas as coisas que transmitem paz e se tornam grande dentro da gente quando se despe das ocupações vãs para adentrar o mundo dos sonhos, da natureza e da poesia.

Paula Belmino

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