POLTRONA 14

Mequinho era muito supersticioso. O quarentão não passava embaixo de escada, e não cruzava com gato preto na rua. No bolso de seu paletó não faltavam o trevo da sorte e também o famoso pé de coelho. Ele também não usava roupas pretas e sim da cor amarela. Alguém lhe disse que esta matiz trazia dinheiro e fortuna para quem se vestisse com ela. O pé direito de Mequinho entrava sempre primeiro nos lugares visitados. A sua casa era ornamentada com imagens de cifras das diversas moedas do mundo. Mas a cifra do dólar predominava no recinto. Toda semana o quarentão apostava na loteria sempre os mesmos números:625479. Estes algarismos apareceram em sonho e foram ditados por uma velhinha fofoqueira falecida. Todas as quartas-feiras Mequinho também apostava no jogo do Bicho. A lenda dos números tatuados embaixo da barriga da cabra, para ele, era verídica e incontestável. Outro dia um amigo dele falou sobre uma placa de um carro encontrada na rua após uma enchente. Mequinho anotou os números, mas nada acertou naquela semana. Ele gastava mais dinheiro com apostas do que os prêmios recebidos. Certo dia ele foi sorteado em um concurso de uma marca famosa de margarina. No entanto, para receber o prêmio o sorteado viajaria para outra cidade. Mequinho festejou, soltou rojão e riu das pessoas que duvidaram sobre a sua sorte. O quarentão estava rico e satisfeito com a sua sorte. O dia do resgate chegou finalmente. Todos os vizinhos saudavam o sortudo da Villa Bella. Até pessoas desconhecidas saudavam o ganhador do prêmio. Na rodoviária Mequinho acenava para aquele contingente de admiradores. Na porta do ônibus agradeceu a todos e adentrou no veículo. Ele se dirigiu até os assentos do veículo coletivo que estava lotado. Mas Mequinho ficou decepcionado. A cadeira de nümero 13 estava ocupada por uma velhinha. Ele tentou removê-la, mas a idosa resistiu e não saiu do lugar em que estava sentada. O número 13 era o favorito do quarentão. Mequinho fez várias tentativas, ofereceu dinheiro, o seu relógio de ouro e o seu anel da sorte. Tudo sem sucesso. Diante daquele obstáculo, o quarentão viúvo deixou o veículo e desistiu da viagem. Ele preferiu perder o prêmio, mas não embarcou naquela poltrona 14. Não! Jamais sentaria no número 14.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 03/07/2016
Reeditado em 03/07/2016
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