O Bicho no tomate

Tempos difíceis de faculdade...

Luiz Claudio era um sujeito boa gente, alegre, de bem com a vida. Estudante de bioquímica. Acabamos por nos tornar amigos – coisa pouco comum para àquela pequena cidade, já que o meu curso era engenharia e não era muito normal a turma da faculdade de engenharia se enturmar mais estreitamente com a turma da faculdade da área de saúde, mesmo porque, eram faculdades de estabelecimentos distintos.

A faculdade de engenharia era particular e a de Bioquímica era federal, composta ainda pelos cursos de odontologia, farmácia e enfermagem.

Mas o certo é que, eu acabei me enturmando com eles, levado pela influência de alguns colegas de faculdade do Luiz Claudio, que moravam no mesmo beco.

Diante disso, eles acabaram conseguindo para que eu pudesse pegar o bandeijão no DA da faculdade. E assim, a alimentação ficou bem mais em conta pra mim.

Como acontece com os amigos, sempre estávamos à sentar na mesma mesa. A comida era razoável, e tinha sempre tomate como verdura – minha verdura preferida.

Naquele dia, eu estava faminto. Enchi meu bandeijão e caprichei na quantidade de tomate.

Sentamos à mesa e começamos a devorar as nossas “serras”. Em dado momento eu vejo algo a mexer no meu prato. Achei àquilo um tanto quanto estranho, mas como a luz do ambiente era ruim, achei que fosse impressão minha e continuei a minha tarefa.

Mas a rodela do tomate parecia criar movimentos – olhei com mais atenção e deparei com um “bicho” grande mexendo - expicha-encolhe – era um bicho do tomate.

Àquilo me trancou a natureza e não consegui prosseguir. O Luiz perguntou o que foi?

Um bicho no tomate – Respondi.

Onde? - perguntou.

Aqui – Respondi , apontando com o dedo.

Isso não vale nada, não – Respondeu ele, me dá aqui. Ato contínuo, pegou o resto do tomate do meu prato, colocou no prato dele, retirou o bicho e continuou à comer normalmente aliás, com uma boca boa que só.

Eu ao contrário, não consegui comer mais.

Sempre que me lembro dessa passagem, fico pensando: cada um tem uma natureza; cada um reage diferente diante de uma situação.