Burro becha
Tem fatos que acontecem na vida que agente não esquece jamais. Pode ser com gente ou com animais. Na fazenda do meu pai, tinha um burro pequeno que ficou conhecido na região. Burro becha, acho que o chamavam assim por causa da cor. Entre o russo e o pedrês. Era um burro muito bom de gado. Mas era muito sestroso, para pega-lo na roça, ele só deixava se aproximar dele pelo lado esquerdo, não deixava ninguém monta-lo em pelo, só selado. Para colocar a sela era outra luta, tinha que amarra-lo bem curto, pois ele saltava só com a sela em cima, dava coice e mordia. Depois para monta-lo era outra confusão, tinha que sair puxando-o até não ver mais a casa. Aí ele deixava montar. A partir dai se o vaqueiro fosse bom... Não tinha pra ninguém. Não achou boi ou vaca que ele não topasse no sedem. Quando a vista o gado e o vaqueiro separava o que queria pegar. Podia soltar as rédeas e se segurar que ele subia serra descia morro até o vaqueiro jogar o bicho no chão. Aí tinha outro problema, o vaqueiro tinha que saltar dele para pegar o boi, já com o cabresto na mão. Se não ele corria com a sela até chegar à casa da fazenda. E deixava o vaqueiro na chapada sozinho. Muitas propostas foram feitas ao meu pai para vende-lo. Ele não queria nem saber. Dizia que o becha ia morrer de velho na fazenda com a marca dele. (ferro do meu pai) Quando tinha boi afamado que ninguém pegava, vinham atrás do becha. E o vaqueiro ia e atrás dele um monte de curiosos só para ver a fama do burro. Outro detalhe! O vaqueiro do meu pai era grande, quando ele montava os pés só faltava arrastar no chão devido à altura do burro. O meu pai aposentou o burro becha. Falou... A partir de hoje o becha não corre mais atrás de bicho nenhum. Soltou no pasto. Só que quando o meu pai não esta na fazenda, pegavam o borro não para campear, mas para ir a uma feira, uma festa e passear. E me falaram que o burro ficou com tanto medo de gado. Que quando ia à estrada, que aparecia uma rês (gado) de repente. Ele entrava no pau (fechado) com medo. Ainda hoje, os vaqueiros mais velhos que moram na região lembram no burro becha. E o vaqueiro que montava nele hoje mora em São Paulo. E a ultima vez que nos encontramos ele me falou... Nunca encontrei animal igual ao burro becha. E os olhos se encheram de lágrimas!