ISOLDA

Aquela manhã de Inverno anunciava boas novas para Isolda. A costureira contemplava pela janela as gotas que caiam de uma intermitente chuva. Há dois dias começara o temporal. As ruas pareciam longos rios caudalosos. O acesso à pequena cidade de Etápolis estava intransitável. Os moradores desta localidade possuíam apenas um telefone que conectava-se a outras cidades que era na casa do prefeito. O torrencial que caia naquele lugarejo alagou casas, vilas e áreas de risco. O prefeito anunciava medidas de emergência para a reconstrução de pontes, ruas e relocação de famílias carentes das zonas de risco. Mas alheia a tudo isto, Isolda pensava apenas na recuperação da mãe que sofrera um acidente na estrada. O caso era grave, todavia os ocupantes da Van envolvida no desastre melhoraram rapidamente. As escoriações foram leves e sem gravidade. A costureira também estava junto com o grupo. Mas agora tudo estava resolvido, e Isolda tranquilizou o seu coração. A sua genitora voltou para a sua casa, e Isolda retornou para o seu recanto preferido. Naquele lugar afastado da cidade a costureira vivia sozinha há seis anos. O marido foi acometido por uma doença rara que ceifou-lhe a vida em dois dias. O casal não teve filho, porém viveu feliz naquele lugar florido que parecia um paraíso. A casa tinha enormes vidraças, um jardim circundando-a e ainda uma pequena fonte de água com um anjo em evidência. Cada detalhe daquele jardim fora cuidadosamente organizado pela costureira e seu marido. As plantas e seu frutos alegravam a vida de Isolda. Aquele jardim aguçava as suas criações de blusas, calças, e vestidos para as suas clientes. Os modelos eram exclusivos e causavam inveja nos mais renomados estilistas. Naquela manhã de Inverno tudo estava mais bonito. As cores da flores, os pássaros alegremente pousavam nas plantas e alamedas. Todos eles contemplavam a vida. Todavia Isolda estava sentada no terraço e encolhida em sua rede presenciava o espetáculo da chuva que parecia pequenas partes de uma existência. Isolda fechou os olhos e descansou para sempre. A paralisação de alguns órgãos de seu corpo foram a consequência do inesperado acidente. Agora a costureira estava definitivamente em paz.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 26/06/2016
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