ANTES DE TUDO, UM FORTE !

"Quem acha que o Nordeste

é ceguinho de feira

cantando folclore

ou é muito safado

ou está de miolo mole."

(Lêdo Ivo, "Calabar", página 44, Record, ed. 1985).

A primeira regra e a mais importante de um vendedor é oferecer sempre, em todas oportunidades, sua mercadoria.

Lembrei-me deste ensinamento, outro dia, de madrugada, em um posto de combustível no início da rodovia Castelo Branco.

Num lugar frio de matar passarinho.

Para quem vai para São Paulo ali é a Serra de Botucatu.

Como tem feito frio mesmo aqui em Araça, lá, onde parei, as quatro horas da madrugada, gelava a alma.

Sai do carro com aquecimento, blusa de lã e paletó de couro, e corri para a cafeteria.

Não demorei muito lá dentro, sai e fiquei a apreciar o frio.

O lugar estava em reforma e fiquei de pé, olhando a noite, ao lado de uma caçamba de ferro, que usam para carregar entulhos.

De repente um movimento dentro da caçamba me chamou a atenção.

Examinei o seu interior e vi que ela estava cheia de redes do nordeste.

Todas amontoadas, como uma maçaroca.

Percebi o que me chamara a atenção.

Dentro da caçamba, misturadas às redes, havia gente a dormir.

Ou tentar dormir; porque o frio estava de lascar.

O amontoado de redes moveu-se, tal ondas do mar, quando algo sai das profundezas para a superfície.

Surgiu a cabeça de um Paraíba.

Ele piscou os olhos para mim, acostumando-se à claridade.

E perguntou:

_____ Quer comprar uma rede?

Não sei se o mundo é pequeno ou o Nordeste é grande.

Sei e ali se confirmava, que o nordestino luta.

Quisera eu ter esta força bruta.

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"Sou apenas um turista

que viaja de automóvel

para ver o Brasil grande.

Minha máquina fotográfica

é meu olho permanente:

guarda tudo quanto eu vi."

(Lêdo Ivo, "idem", página 15).

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Obrigado pela leitura.

Sajob - junho / 2016