Explicações sobre amor sem ninguém pedir nº 2

Foi ali, no pátio da escola, durante o intervalo dos alunos da 3ª série do ensino fundamental que me foi novamente explicado o que é amor.

Eu estava simplesmente com a cabeça congestionada de afazares: provas a serem corrigidas, diários para preencher, contas a pagar, coisas do mundo adulto (de professor) que geralmente tolhem a visão e dificultam enxergar que pequenas atitudes são capazes de proporcionar grandes ensinamentos . Mentalmente eu enumerava as prioridades. E ali fiquei, aguardando o sinal de retorno do intervalo.

Por um instante, encostei no parapeito que protege o andar superior do pátio e me deixei embalar pela algazarra daquelas crianças, correndo animadamente pra lá e pra cá. Em um dos cantos, porém, uma cena contrastava com toda a alegria que só o intervalo entre as aulas pode oferecer a uma criança. Um menino estava sentado, a cabeça baixa levemente apoiada pelos braços cruzados sobre os joelhos, o olhar meio à deriva. As roupas eram humildes e aspectos da expressão facial denunciavam que tinha fome, fato que se confirmou com o olhar que ele lançou a um grupo de meninos que comia, ruidosamente, um pacote de bolachas. Creio que, por vergonha, ele permanecia lá, quietinho, apenas observando.

De repente, vejo outro menino caminhando em sua direção. Tinha nas mãos uma dessas embalagens econômicas de bolo industrializado. Sentou-se ao lado do amigo e ofereceu um pedaço de seu lanche. A divisão foi igualitária: um pedaço de bolo para cada um.

Os olhos do menino que estava sentado brilharam de tal maneira e com tamanha intensidade que, mesmo a distância, seria perfeitamente possível descrever seu pensamento: "quem tem um amigo jamais sofrerá de fome alguma nesse mundo".

Dois minutos depois, devidamente alimentados, os dois se levantaram e saíram abraçados – inusitada cena que fez com que meus olhos se inundassem em lágrimas e me fizeram com que eu esquecesse as urgências que havia traçado para aquele dia.

Quantas vezes tentamos definir o amor, relacionando-o a presentes caros e artigos de luxo? Se pararmos para pensar, chegaremos à conclusão de que as melhores explicações são aquelas que nascem das coisas mais singelas que ocorrem diante do nosso olhar.

Otávio di Sábatto
Enviado por Otávio di Sábatto em 19/06/2016
Reeditado em 02/07/2019
Código do texto: T5671900
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