FALA INVERSA!

Em minha habitual caminhada, que atualmente normalmente realizo dia sim, dia não, já estava para complementar meus 8 km percorridos quando passei próximo a uma parada de ônibus localizada no percurso que fazia.

Nele encontrava-se um rapaz e como é de meu feitio, ao passar por ele cumprimentei-o e já ia, ainda célere, seguir o meu caminho quando ouvi um som como se ele estivesse respondendo ao meu cumprimento.

Olhei em sua direção e vi que estava com a mão levantada em sinal característico de solicitação para que eu parasse. Estanquei de imediato, esbocei um tênue sorriso e fiquei aguardando o desfecho da situação. O rapaz também esboçou um sorriso e literalmente, grunhiu algo que me foi imperceptível! Sorri e aproximei-me dele dizendo:

--- Poderia repetir? Não entendi...

O rapaz, agora sem o sorriso anteriormente estampado na face, grunhiu novamente e, como não poderia deixar de ser, novamente fiquei sem nada entender...

Esbocei com as duas mãos espalmadas, um menear dos ombros e uma expressão facial, gesto que para mim denotava que ainda não havia entendido, e já também esboçando ação de que prosseguiria em meu caminhar!

Neste ‘estado de coisas’, surgiu outra pessoa, um senhor de meia idade que, dirigindo-me a palavra, foi logo dizendo:

--- Descurpe, sinhô! U Alfredinhu istá importunanu u sinhô?

Retruquei:

--- Não, não! Ele apenas me perguntou alguma coisa e não consegui entender do que se trata!

O recém-chegado coçou a cabeça e novamente arguiu:

--- Pois é, sinhô! Só quem convivi diariamente cum eli é qui intendi u qui eli fala! Eli é uma pessoa normá, só qui tein esti pobrema com a fala...

Indaguei:

--- Ele é mudo?

--- Não... Eli fala tudo de trás prá frente...

--- Como assim?

--- U sinhô agora vai intendê! Fais idea qui é qui eli disse pru sinhô?

--- Vou ser sincero: Não entendi absolutamente nada...

--- Eli preguntô u qui sempri pregunta prá tudim qui passa pru aqui: Aqui passa onibu qui vai prá estação? Só qui eli fala: Iuqa assap subinô iuq iav árp oãçatse?

Ato contínuo, olhou para o rapaz que nos observava e tudo ouvia em silêncio e fez o sinal característico que solicita aquiescência em caso de concordância. O rapaz meneou alegremente a cabeça e também fez o sinal de concordância com entusiasmo!

Embora atordoado com o que ouvi, ainda mereci explicação complementar do senhor que complementou:

--- Eli ficô assim dispois di custumi qui tinha quando pequinin di ficá invertenu u jeitu di iscrevê as palavra! Podi sê que isteja paganu pru arguma cosa qui feis i qui num agradô nossu Criadô, num é mermo?

Tão atordoado fiquei que nem me preocupei em querer saber mais, coisas como se já havia buscado ajuda para o seu mal, se algumas sessões de psicologia não resolveriam o problema e muito mais. Desejei infindas felicidades para ambos e ainda brinquei pedindo para que o senhor ‘traduzisse’ o que eu disse para o rapaz, me despedi e segui, já ‘esfriado’, minha aquecedora caminhada!

Nesta minha retomada, não pude me furtar em pensar do quão fui bafejado pela sorte, pois, voltou-me à mente a lembrança de que houve uma época em minha infância que eu também tive este costume, onde eu me divertia invertendo todas as palavras que ouvia, fazendo questão de contar ‘aos quatro ventos’ quando ‘descobria’ alguma palavra que, mesmo invertida, tinham sentido! Por exemplo, vibrei quando ‘descobri’ que lendo AMOR invertido ‘sonorizava’ ROMA, que LUAR dava RAUL, que um político denominado ONAIREVES teve o seu nome invertido a partir do mais conhecido SEVERIANO, que ANA seguia como ANA, que OTO também prosseguia OTO e por aí afora! E que também não podia mais ver um número que já ia aplicando a regra matemática do ‘noves fora’, que havia aprendido para verificar se uma operação matemática estava com seu resultado correto. Só como lembrete, por exemplo, na soma de 8764 com 4678, temos como resultado 13442! Retirados os nove das parcelas (8764 e 4678) ‘sobra’ 5; retirados os nove do resultado, também ‘sobra’ 5. Então, a operação está correta! Quando via, por exemplo, uma placa de um veículo EXX-7689, já ia aplicando a regra dos ‘nove fora’ e sorria satisfeito quando chegava nos 3, mesmo não tendo sentido, pois não se tratava de uma operação matemática...

Ainda bem que o Criador e meus resistentes neurônios, não me penalizaram com o mesmo mal que acometeu o infortunado rapaz...

Agradecendo pela paciente e honrosa leitura com a qual me presentearam, envido:

Odut ed mob ERPMES, meuqif moc sueD ERPMES e,..., éta ed etneper!

Minha nossa! Preciso ficar atento... Não é que tive uma recaída...rs

Efetivamente envido:

Tudo de bom SEMPRE, fiquem com Deus SEMPRE e,..., até de repente!