JOGO DE MAIA

Na baixada antes do morrinho das pedras,

Todo domingo se escutava, a partir das três da tarde,

Os sons das chapas ou malhas, ou enxadas sem o rompão,

Arrebentando-se umas às outras para aproximarem-se do toquinho com as moedas.

Os compadres iam chegando e formando as parcerias para jogarem maias nas tardes frias de inverno.

Os que não jogavam ficavam sentados à beira da estrada olhando e contando causos que nunca foram registrados para que pudéssemos hoje ouvir ou ler o conteúdo que naquelas tardes se contava.

Seu Adolfo com um litro de cachaça que ele mesmo fabricava, enquanto jogava, dançava a dentadura para todos os cantos da boca.

Seu Zé Lopinho com a caixa de sapato cheia de pés-de-moleque que eram feitos em sua casa, contava piadas e ria do jeito de ser dos companheiros o tempo todo.

Joaquim Fermiano com um saco de bananas maduras que eram vendidas por dúzia, mas que na realidade acabava dando de graça para todos que estavam na roda.

Afonso da Cândida, cabeça dura como ninguém, prepotente como ele só, enquanto jogava, não admitia opinião do parceiro e sempre dizia: - Eu que sei!

Seu Brás, com sua fala mansa e sem pressa ia jogando maia e fazendo o cigarro de palha ao mesmo tempo. Perdia ou ganhava a queda e o cigarra ainda não estava pronto.

Jair e Gavião, uma dupla metida a cantar grosso, ponteavam as violas e cantavam modas antigas de Tião Carreiro.

Raul da Luíz, sempre com gripe, jogava a maia com muita força e reclamava por ultrapassar e muito toquinho.

Papai, um dos melhores de mira, todos queriam tê-lo como parceiro, mas ele sempre escolhia o seu compadre Brás, por ser tranquilo e parecido com ele na miragem do toquinho. Ele comprava pés-de-moleque para mim que era muito menino. E sempre dizendo: - vou comprar só esse! - agora chega!

Seu Candinho, surdo por natureza, jogava maia o tempo todo, mas não escutava nada e não sabia se já era hora de ir embora ou não.

Seu Alcides Silvério falava coisas engraçadas o tempo todo e era quem mais ria das piadas contadas por Zé Lopinho.

A tarde era faceira por aquelas bandas de altas montanhas.

Hoje, até o jeito da estrada e das moradias não são mais as mesmas.

Tudo mudou, tudo mudou para melhor, mas parece que a simplicidade e a humildade daquela época era mais real e a malícia era mais santa.

Jogo de maia, local da amizade, estrada da unidade.

Vizinhos unidos no lúdico dos finais de domingo.

É isso aí.

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 13/06/2016
Reeditado em 07/04/2017
Código do texto: T5666379
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