GOTA
Nas manhãs a vida na natureza parece se expandir, parecendo ser sempre a primeira vez, ser a vida simplesmente o máximo, tudo é perfeito e tudo é lindo. Na perspectiva do olhar ao longo de uma cerca que imaginamos ir diminuindo ao longe, muitas formas de vida desfilam nas manhãs, garbosas e fascinantes como se aproveitasse à magia das manhãs que aconteciam somente para elas.
Da grandiosa quantidade de formas de vida, as mais variadas formas, os mais diferentes tamanhos, destacamos a dona porca, que caminhando à frente de seus seis filhotinhos ainda tão bebes e com a cor rosa dos corpinhos sobressaia os pelinhos dos cílios bem branquinhos, logo acima do nariz em forma de tomada elétrica e na cor rosa mais forte, quase vermelho. E o rabinho, todo enrolado. Para acompanhar a mãe quase tinham que correr, mas não perdiam a elegância e o sincronismo do caminhar. Mesmo sendo porquinhos, é impossível não ter a vontade de tomá-los nos braços, de acariciar. E a dona pata, que ao entrar na água à frente de seus oito filhotinhos que ainda tem as penugens amarelas de tão bebes, não deixa que uma gota de água espirre, que elegância, mãe e filhos nem parecem nadar flutuam como se fossem apenas penas sobre a água, numa ordem que causa inveja. O touro, aquele que aparenta ser um brutamontes e que nos causa até medo de repente interrompe sua caminhada, olha para traz e para, esperando que o bezerro retardatário se agrupe novamente ao rebanho, na mais clara intenção de proteger um ser ainda frágil da sua espécie.
Quanto aos pássaros, toda a algazarra naquela imensidão, nem lembra as gaiolas os viveiros onde é tão sutil a diferença do canto.
Os vegetais estáticos como se ainda dormissem, apenas exalam seu cheiro que em contato com a solidez dos minerais e espalhados pelo vento fazem os perfumes que acompanham a vida, e nos momentos mais inesperados trazem de volta a realidade e mostra que a singeleza é o mais puro amor, que o que conta mesmo, é a vida.
Com uma visão desta ao fundo, o arame da cerca esticado entre os dois mourões de madeira, lembra um altar, onde predisposto aos raios solares emitia seu brilho de pureza em tantas direções quantas formas de vida existam. E como finos punhais adentravam e iam cortando a fina neblina daquela manhã. Agarrada àquele altar, fracionada ou solitária não perderá jamais sua maciez. E por maiores semelhanças que possam existir, a gota de orvalho nuca será fútil.
Gentilmente cedido pelo Autor : Paulo Cezar Rozeto