O BARBEIRO

A baixa do Morgado acolhia os diversos tipos de pessoas do subúrbio de Gotra. Naquela comunidade habitavam marinheiros, cabeceiros, alfaiates, sapateiros, pequenos comerciantes, prostitutas e militares de baixa patente. Todas estas pessoas tinham algo em comum: Histórias de superação de diversos obstáculos, desde casos de infidelidade até perdas materiais como incêndios nos barracos. Os moradores dividiam as suas histórias com outros frequentadores da barbearia do Fausto. Este barbeiro tornara-se no grande "psicólogo do subúrbio". As grandes decisões de cada morador daquele lugar eram tomadas com o aval dele. Ali não havia fato que acontecesse sem o consentimento do confiável barbeiro. Quando ocorria alguma briga de vizinho lá estava o seu Fausto para apaziguar os ânimos. O barbeiro vivia sozinho em sua casa/trabalho. Ele era viúvo e sem filhos e desde a morte de sua esposa ele não casou com mais ninguém. Há dez anos morria a dona Glória, a mulher que o ajudava na reconciliação dos casais briguentos. O barbeiro não possuia educação para recitar grandes filósofos, mas utilizava o linguajar do povo para solucionar os problemas da comunidade. Quando houve um grande incêndio nos barracos próximos a casa do barbeiro, as vítimas foram abrigadas na casa de Fausto. Anos depois houve uma enchente que produziu uma grande cratera na entrada da comunidade. O barbeiro reuniu um mutirão e arrecadou uma grande soma em dinheiro para asfaltar a rua principal. Alguns defendiam a candidatura daquele "protetor" a deputado ou vereador. Os moradores acreditavam em melhorias quando Fausto estivesse no exércício de um mandato. Porém o esforçado barbeiro não tinha pretensão de ingressar na política. Ele tinha receio de que seu cotidiano mudasse de uma hora para outra. Fausto não possuia uma grande fortuna e desconfiava dos banqueiros. Ele tinha horror a banco, senhas, filas e procedimentos complicados. O seu "cofre" era o colchão em que dormia toda noite. Certa manhã, o barbeiro foi acordado por um portador de notícia ruim: o coveiro Leleco. Ele trouxe a notícia do falecimento da sobrinha de Fausto. Além disto, ele comunicou também que os parentes tinham poucos recursos para enterrar a falecida. O barbeiro arrumou as malas e colocou grande parte de seu dinheiro dentro da bagagem e partiu para a cidadezinha onde a sobrinha residiu grande parte de sua vida. Quando chegou à estação o barbeiro foi informado sobre o arrombamento em sua casa. Prontamente Fausto voltou a barbearia e percebeu que todo o dinheiro do colchão havia sumido. Porém a polícia montou uma força tarefa e prendeu o ladrão. O meliante era o filho do marinheiro Borges que era assíduo frequentador da barbearia. O gatuno usou uma justificativa bastante simples. O dinheiro depositado no colchão do barbeiro iria ficar órfão com a partida de seu protetor. Então o gatuno se "candidatou" a protetor" do dinheiro indefeso. Mas descobriram depois que o coveiro que era comparsa do roubo utilizou a notícia falsa sobre a morte da sobrinha do barbeiro. A intenção era aproveitar a ausência do barbeiro para afanar o pobre dinheiro.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 05/06/2016
Reeditado em 05/06/2016
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