MEU EX-PRÍNCIPE ENCANTADO

Eu vivia um amor platônico de quase um ano pelo Chico. Não que ele fosse o mais lindo ou o mais gostoso. E nem ganhava tão bem quanto deveria. Mas quem disse que eu me importava? Desde a primeira vez que eu coloquei os olhos nele lá na academia, meu coração deu um salto. Minha alma gêmea estava ali.

No início, ele nem sabia que eu existia. Eu e uma ameba causávamos o mesmo efeito nele. Para que o Chico prestasse atenção em mim, comecei a apelar. Primeiro, resolvi pintar o cabelo de louro. Minha irmã mais velha disse que homem não repara nesse tipo de coisa, mas eu tentei mesmo assim. Resultado: se eu tivesse aparecido careca dava na mesma. Minhas madeixas louras fizeram sucesso com o Guto, o cara mais chato da academia, virado em músculos e zero de neurônios. Minha primeira tentativa de conquista, portanto, fôra nula.

Quando eu vi que ser loira não adiantava para conquistar o coração do Chico, investi em algumas malhas de ginástica, bem apertadas e bem sedutoras. Isto ajudou. Quando eu passava rebolando por ele, sentia o seu olhar cumprido nos meus quadris. Fiquei tão animada que para comemorar, comi uma lata inteirinha de leite condensado e tive que suar horas na esteira para perder o excesso que se formou no meu abdômen. Vida de mulher não é fácil mesmo…

De alguma forma, minhas roupas novas aliadas ao meu charme (?) foram conquistando o Chico, aos poucos. Ele começou a me cumprimentar, meses mais tarde começamos a falar sobre o tempo e quase um ano depois, eu descobri que ele tinha Orkut. Não pensei duas vezes e o adicionei na hora. Descobri que ele era solteiro, formado em Direito e que adorava fazer musculação e andar de bicicleta. Li os livros que ele mais tinha gostado, comprei os CDs com as músicas que ele curtia, enfim, fiz de tudo para conquistá-lo e para que se um dia a gente saísse, nós não ficássemos sem assunto.

Em dezembro, quando a academia marcou a tradicional festa de final de ano para um barzinho destes da moda, deduzi que ali estava a minha grande chance. Ou seria naquela noite em que ficaria com o Chico para sempre ou nunca mais. Lógico que me produzi toda. Fiz chapinha no cabelo, vesti uma minissaia para mostrar minhas coxas torneadas, calculei tudo nos mínimos detalhes para que a minha noite fosse lembrada por mim até nas próximas reencarnações.

Deu certo. Acho que o Chico já chegou afim, naquela noite, de pegar a primeira oferecida que aparecesse na frente dele. Tinha que ser eu. Eu nem precisei mostrar meus conhecimentos adquiridos e ele logo foi me agarrando. Fui ao céu várias vezes e viramos a madrugada no motel. Cheguei às sete horas da manhã em casa, tonta de sono e apaixonada. Eu deixei o número do meu celular com ele e esperei que naquele domingo ele ligasse para mim. Nada. Fiquei decepcionada, mas disse para mim mesma que o fofo poderia estar dormindo, esgotado depois de uma noite eletrizante.

No outro dia, na academia, eu estava ansiosa esperando que ele chegasse. Ansiosa também fiquei o dia inteiro esperando uma ligação do Chico que nunca aconteceu. Quando finalmente ele deu as caras por lá, me cumprimentou como se eu fosse uma qualquer. Fiquei chocada. Eu esperava calor humano e só ganhei um “oi”. Tentei disfarçar. Parecia que todo mundo estava vendo a minha cara de palhaça, porque a academia inteira tinha visto eu me agarrando com o Chico na festa. Fiquei tão mal que nem terminei meus exercícios de musculação. Saí da academia, cheguei em casa e picotei todas as minhas sexies roupas de ginástica. Cachorro! Um ano jogado no lixo, afim de um cara que não valia nada. É Chico, você é igual a todos os outros. Por que eu ainda acredito em príncipes encantados?

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 15/07/2007
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