Cárceres
30/5/2016
Joana Lia em sua cama no quarto de dormir, quando seu marido Renato adentrou pela porta dois:
- Venha assistir televisão comigo.
- Mas eu estou lendo. - retrucou Joana sem tirar os olhos do livro.
- Venha ver televisão comigo na sala. - repetiu Renato incisivamente.
Joana se sentiu constrangida, olhou Renato nos olhos, tentando entender qual era o nível de importância daquele imperativo. em seu peito havia um toque de tambor em marcha, pé esquerdo pé direito pé esquerdo pé direito, "devo seguir a ordem". Sua barriga se resfriava como quando a presa percebe seu caçador, um animal muito maior e que a encurralou, levando a presa à necessidade de fugir mesmo quando não há saída.
Joana encontrava-se em um momento no qual via-se sempre, quando Renato trazia imperativos sobre qualquer assunto.
Em geral, Joana tinha duas opções para seguir dois: ceder ao imperativo e ali, naquela posição estava sempre sob o algoz carcereiro, que a cativava irresponsavelmente, desnecessariamente, permanentemente e , subjugando sua individualidade a individualidade dele. Em segunda opção ela podia seguir em frente resistindo ao imperativo, e ser cativa de um algoz encolerizado que a prostraria no ambiente em que estivesse resistindo para se manter em paz num inferno psicológico regado por gritos, injúrias, acusações e julgamentos de forma eterna.
Isso que permeava Joana era um medo cotidiano de contrariar o seu parceiro, aquele com quem ela se casou, pois a linguagem do medo se dá além da instância da língua materna que a sociedade reconhece como padrão. A linguagem da coação é banhada de elementos de linguagem sutis, pois advém de uma premeditação da vítima e do algoz baseada em experiências anteriores que demonstram por amostragem o limite em que se pode chegar para destravar um gatilho no outro e viver um inferno que promete ser, e muitas vezes é, pior que aquele que já lhe é comum, como há na primeira escolha que Joana sempre tem aos imperativos de Renato.
Uma pessoa que sempre é coagida não teve oportunidades de uma terceira opção. Mulheres devem submeter-se, é o que lhe ensinam, é o que esperam delas. Espero que Joana consiga empoderar-se, e você?