Letícia, a menina feliz

Chegou toda avexada, cabelo comprido, cacheado e enfeitado com fitas coloridas, parecia um arco-íris. Mas para Letícia, não importava se alguém não estivesse gostando da sua aparência. O importante mesmo era a felicidade estampada em seus olhos e sorriso.

Menina humilde do interior da Paraíba, especificamente Serra Branca. Veio para a capital estudar, ficaria hospedada na casa da sua tia Rita. Mulher baixinha, gorda e ignorante. Mas apesar da arrogância da tia, gostava dela, principalmente porque diziam que fazia umas comidas gostosas e doces maravilhosos. Assim que chegou foi recebida por Juninho, seu primo segundo, na rodoviária e ofereceu-se para levar sua mochila.

- Oi Letícia, tudo bem? Estamos todos ansiosos por sua chegada. Vamos, o carro está logo ali. Cadê o resto da sua bagagem? Perguntou procurando.

- Oi primo. A minha bagagem é esta mochila. – Respondeu sorrindo. Olhando atentamente para aquele rapaz tão bonito, admirada com tamanha beleza.

Seguiram o percurso, calados. Ele levando sua mochila e a garota embebida em seus pensamentos, aguardando ansiosa pela chegada a casa da sua tia Rita. Logo na entrada da residência, havia um canteiro cheio de rosas, das mais variadas cores e tamanhos. Do nada a garota começou a pular rodeando o pequeno jardim, sem se importar com os olhares atentos de reprovação do primo e da tia que se aproximava sorrateiramente com uma cara de quem não estava gostando nadinha do que estava vendo.

- LETÍCIAA! Para já comi isso. Onde já se viu uma jovem da sua idade correndo desse jeito no meu canteiro a ponto de machucar minhas roseiras. Saia daí imediatamente lembre-se que aqui as coisas são bem diferentes do fim de mundo de onde você veio. - Esbravejou a tia bufando de raiva, arrependendo-se de ter aceitado a proposta da irmã, de ficar com a menina até terminar o ensino médio.

Juninho, o rapaz que ficou de pegar Letícia na rodoviária, saiu puxando-a pelo braço, querendo livra-la dessa situação. Mas a garota não se conteve e revidou a afronta da tia:

- Oxente, tia Rita, e é assim que a senhora me recebe? Eu corri no seu jardinzinho porque fiquei feliz em chegar ao meu futuro lar. – Correu para abraçar a tia gorda.

Ela, porém, recusou a oferta do abraço. Empurrou-a com tanta força que Letícia caiu. Mas ao invés dela chorar ou ficar triste, começou a sorri o mais alto que pôde. Olhou para ela e saiu assobiando distraidamente. Entrando na casa, preocupou-se logo em procurar o seu quarto. Pediu ao primo que lhe mostrasse:

- Gustavo Jr., mostra o quarto onde irei dormir, quero deixar minha mochila lá. – Ficou em pé esperando a resposta.

- Você dormirá no quartinho dos fundos. Minha mãe não quer você perambulando pela casa. A entrada fica do lado de fora, no beco. E não precisa me olhar com essa cara, não fiz parte disso. - Foi logo se defendendo, não queira inimizade com a prima.

Ela não esperava que fosse recebida como uma princesa, afinal de contas a tia Rita tinha fama de miserável e rabugenta. A jovem somente aceitou o desafio por que prometera para sua avó que terminaria os estudos e faria faculdade. Nem que para isso tivesse que enfrentar o mau humor daquela que se dizia sua tia. Como era uma garota que tinha muita fé em Deus, convencera-se de que faria sua tia a aprender a ter amor pelos outros. O que era quase impossível.

Os dias foram se passando e a vida de Letícia só piorando, pois quanto mais tentava agradar a tia, era mal interpretada. Outro dia, quando chegava da escola, flagrou sua tia saindo do seu quartinho. Quando percebeu que a sobrinha havia visto, tentou disfarçar, mas sem sucesso.

- Oxe tia, perdeu alguma coisa no meu quarto foi? – Falou sorrindo, achando engraçado o jeito dela, toda desconfiada.

- A casa é minha, e, portanto, tenho direito de entrar e sair do quarto. E você mocinha, se pensa que me engana, o que estas garrafas pet estão fazendo dentro do quarto? – perguntou toda nervosa.

Depois de alguns segundos, Letícia como sempre sorrindo, respondeu a altura.

- Tia Rita, a senhora não tem o direito de invadir meu cantinho, já que foi a senhora mesma quem resolveu me isolar do resto da casa, como se eu fosse um animal doente. Mas não ligo. Pense o que a senhora quiser. - Falou isso e saiu sem esperar resposta, deixando a D. Rita de boca aberta e morrendo de curiosidade a respeito das garrafas no quarto.

A tia não se conteve e foi perguntar ao filho.

- Juninho, o que é que a tua prima anda fazendo naquele quarto? O que ela está aprontando hem? -Falou cochichando para o filho.

- Ah mãe, não sei ao certo. Parece que é ela irá fazer um presente para alguém.

- Só espero que não me apareça grávida. É dessa vez que a mando de volta para o interior de onde nunca deveria ter saído. - Começou a resmungar.

A jovem de quinze anos passou a dedicar algumas horas da noite preparando um pufe de garrafas pet, acolchoado e florido. Queria muito agradar a tia, apesar de tudo não queria que pensasse mal dela. Mesmo morando nos fundos da casa, sentia-se feliz, pois Deus era sua maior fonte de inspiração e otimismo.

Quando os pufes ficaram prontos (dois no total) bolou uma estratégia para surpreender a tia. Então, entrou na casa na ponta dos pés, com os pufes a tira color. Num repente, sua tia ia saindo do quatro, com uma marreta nas mãos, como estava escuro, surpreendeu Letícia com uma marretada na cabeça, achando que fosse um ladrão. Neste exato momento, acende as luzes e percebe que havia acertado a sobrinha. Viu que a menina estava com dois pufes lindos nos braços e comum bilhete enorme dizendo: TIA RITA, COMO PROVA DO CARINHO QUE TENHO PELA SENHORA, FIZ ESSES PUFES COMO AGRADECIMENTO POR TER ME DADO UM QUARTINHO NO QUINTAL. PARABÉNS!

Não imaginava que Letícia gostasse tanto dela a ponto de lembrar-se do seu aniversário. Não tivera nem tempo para agradecer, pois havia matado a sobrinha naquele exato momento.

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 28/05/2016
Reeditado em 11/03/2024
Código do texto: T5649527
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