Empirista de ônibus
Logo pela manhã, um vento gelado, um sol que iluminava meu rosto enquanto voltava para casa, mas não aquecia. Dentro do ônibus, sentado dois bancos atrás de mim, um casal. Eles estavam abraçados, ela deitada sobre o ombro dele, percebi que o namorado a olhava com um carinho que transbordava às vistas. Isso me fez pensar em como andava a minha vida. Comecei a pensar que minhas escolhas me levaram até hoje a caminhos diferentes daquele seguido pela apaixonada dupla. Empirista que sou, comecei a relacionar outras histórias, outras pessoas, outros casais e conclui que somos tolos e tentando acertar, erramos, e às vezes errando estamos certos. Agora você, meu caro leitor, deve estar se perguntando “Como assim, Laura?” e eu te explicarei.
Algumas vezes na vida não queremos criar raízes, queremos alçar voo longe sem ter que voltar ao ninho. Mas claro que a vida tem suas ironias e seus auxílios. Há vezes em que tanto as pessoas, quanto as oportunidades que nos vêm são tão passageiras quanto a nossa vontade de liberdade. Momentos de harmonia, claramente. Mas certas vezes o destino nos manda uma linda caixa de presente, com um belo laço, perfumado, cheio de carinho, amor e prosperidade. Quando abrimos tal lembrança da vida para nós, temos uma importante decisão a tomar, pois sabemos que não será por um curto período, que nos levará a uma rotina e nos prenderá.
E nos curtos quinze minutos até o meu bairro, pensei e pensei e percebi que há três tipos de pessoas que, com suas ressalvas individuais, lidam num padrão nesta situação. Primeiro aqueles que temem se apegar, fogem dos seus sentimentos, pássaros que não sabem viver sem migrar e logo abandonam o presente. Tolos por não saberem receber amor e por não enfrentarem possíveis frustrações, tentam estar corretos consigo, não querem feridas, calejados, porém agora felizes. Segundo aqueles que acham que podem pegá-lo e não se apegar, que apenas ficarão com o presente por um tempo e deixará para traz quando decidir que é o momento. Tolos pois sofrerão. É humano, nós nos apegamos àquilo que permanece por certo tempo na nossa vida e tentaremos justificar internamente que era o certo a se fazer e que logo tudo ficará para trás, mas lá no fundo sabe que haverá feridas. Vive a felicidade presente. Já o terceiro tipo é aquele que se agarra ao presente, sem medo da dor, dos machucados, dos tropeços, confiante no amor, na felicidade a longo prazo. Precipitados, ousados, podem errar, mas nunca se arrepender. Sabem que pode não ser pra sempre, mas e se for? Abrem mão de parte da sua liberdade para um pouco de estabilidade – quase um pacto hobbesiano.
Se você me perguntasse, leitor, qual a conclusão de tal devaneio, eu responderia de maneira até simplista, mas objetiva. Existem pessoas que são exatamente apenas um tipo, que se jogam nas oportunidades, ou vivem em constante mudança e afasta aquilo que pode amar ou magoar ou então se prendem apenas por certo tempo. Mas há pessoas – confesso, como eu – que vivem em transição entre os três tipos e que tenta julgar qual é o mais adequado para cada momento. Talvez sejamos os que mais erram, pois talvez nosso julgamento seja errado, impulsivo. E final das contas somos todos tolos... tolos que buscam a sua maneira ser felizes cada dia da nossa vida.