JORGE E MÁRCIA I
Quando Jorge e Márcia se conheceram não havia shoppings, redes sociais ou celulares. O encontro deles foi um acaso do destino. Jorge trabalhava em um escritório de contabilidade, e Márcia estava concluindo o curso de Administração. No início, os dois tomavam a mesma condução, porém nunca se falavam durante as viagens. Certa noite, os dois esperavam o ônibus e junto com outros passageiros reclamavam da demora da condução. Cada um falava impropérios contra o Governo, as empresas de ônibus e até de um taxista bêbado próximo a eles. Márcia segurava um catatau em uma mão e na outra uma bolsa, e uma sombrinha, pois caia uma chuva fina. Jorge observava os seus gestos, as suas atitudes, e o esvoaçar de seus cabelos loiros e cacheados. A loira estava brava com tudo e com todos. De repente, um mendigo passou e furtou a bolsa de Márcia violentamente. Jorge correu atrás do gatuno, porém não conseguiu pegá-lo devido a asma que o acompanhava desde criança. Ele voltou desapontado ao ponto de ônibus. A loira olhou para aquele magrelo e descabelado rapaz. Ela pensou: - Eu perdi a bolsa, mas ganhei alguma coisa nesta história. A condução chegou e os dois falaram muito durante o percurso. Cada um querendo impressionar o outro. Márcia estudava as feições daquele rapaz e pensava: - E por que não?. Então marcaram um encontro no Parque São Leopoldo na tarde da véspera do dia das mães. Márcia chegou logo cedo e não encontrou o tal magrelo. Jorge esqueceu do compromisso e passou a tarde do sábado tocando guitarra com o filho do vizinho roqueiro. Eles não trocaram telefone, porém na segunda-feira se encontraram novamente no ponto de ônibus. A loira reclamou tanto de Jorge que despertou a ira de uma velhinha. A idosa recriminou a moça por causa das agressões verbais ao "pobre rapaz". Naquele momento apenas Márcia falava e o magrelo não exibia nenhuma reação. Jorge anotou o telefone daquela loira brava e combinaram assistir a um filme. Na sexta-feira lá estava o magrelo diante do único orelhão da rua. Ele ligava para a moça insistentemente. O objetivo da ligação era para desmarcar o encontro, pois o seu avô convidou o neto para jogar gamão. Jorge não conseguiu falar com a loira a tempo de adiar o encontro marcado. Márcia, por sua vez, não foi ao compromisso. Ela "retribuia" a gentileza do primeiro encontro e foi para a casa de uma amiga. Naquele início de semana os dois se encontraram novamente na parada de ônibus. Mas a moça estava calma e o magrelo desconfiado sobre a indiferença da loira por causa de sua ausência no segundo encontro. Depois disto, os dois não combinaram mais nada. O ponto de ônibus era o verdadeiro local de encontro do casal. Alguns meses se passaram, e no Natal eles trocaram cartões do período natalino. Jorge convidou a loira para um almoço na casa de sua tia solteirona. Porém Márcia ainda estava enrolada com o TCC de seu curso e não compareceu ao almoço. Jorge gastou mais de dez fichas de orelhão durante a discussão por causa da ausência dela na casa de sua tia. Mas, finalmente se entenderam e tudo voltou ao normal. Agora o desafio será o próximo encontro marcado. Como será?.